Dando continuidade às dicas de livros, indico Deu no New York Times: o Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo, de Larry Rohter. O autor, correspondente do periódico norte-americano no Brasil desde o final da década de 1970, traça, a partir da experiência de um estrangeiro, um grande perfil do nosso País, em reportagens que tratam desde o projeto espacial brasileiro à insólita análise da substituição do jumento por outros meios de locomoção em regiões pobres do nordeste – após uma passagem por Currais Novos (RN).
Tendo visitado várias regiões do nosso território, Rohter o conhece mais do que a maioria dos brasileiros, que preferem fechar os olhos para questões amplamente discutidas internacionalmente, como a arte popular do cordel e dos repentistas.
Com faro investigativo, o correspondente traçou o perfil do Major Curió – responsável direto pela destruição da guerrilha do Araguaia –, refez o caminho de um “doador” de rim no mercado negro internacional – que o levou das favelas do Recife ao Brooklyn (EUA), passando pela África do Sul – e participou, junto com a Polícia Federal e uma equipe móvel do Ministério do Trabalho, em missões para desarticular fazendas que se utilizavam de mão-de-obra escrava no Pará.
Mas o livro não trata apenas de coisas ruins. Também mostra um Brasil inovador, com reportagens sobre a Embrapa, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e seus projetos de codificação genética, a Embraer e a produção agrícola que vem tornando o país em uma “superpotência agrícola”, no dizer de Colin Powell, antigo secretário de Estado norte-americano.
Temas culturais e sociais, como o tropicalismo, o carnaval, o cinema, nossos escritores e até mesmo vestibular e cotas para negros em universidades são discutidos. Rohter, que ganhou notoriedade nacional por ter sido o pivô de um “escândalo” com Lula e o PT após a publicação de uma reportagem que retratava a preocupação de setores políticos com o fato de que o líder estava exagerando no consumo de bebidas alcoólicas, destina parte do seu livro ao presidente, tendo uma opinião crítica e – em minha opinião – certas vezes exagerada, embora dentro dos limites do bom jornalismo.
Essa dica é, principalmente, para aqueles que cursarão Comunicação Social e para todos que têm interesse em entender como o Brasil é compreendido lá fora.
Trecho do livro: Deu no New York Times: o Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo (Larry Rohter)
Quando Alberty José da Silva descobriu que se vendesse seu rim poderia ganhar dinheiro, muito dinheiro, achou que esta seria a oportunidade de sua vida. Era exatamente o que isto também significava para uma mulher de 48 anos do Brooklyn, em Nova York, desesperadamente enferma, e cujos médicos a haviam aconselhado conseguir um rim de qualquer maneira.
Silva, hoje com 38 anos, é um dos 23 filhos de uma prostituta, em mora em uma favela próxima ao aeroporto daqui, em um barraco frágil de dois cômodos que divide com uma irmã e mais nove pessoas. “Quando eu era criança, eu me lembro de sete de nós dividindo um ovo, ou passando muitos dias sós dividindo um ovo, ou passando muitos dias só comendo um pouco de farofa com sal”, diz Silva em uma entrevista em sua casa. [...]
A notícia de um mercado de compra e venda de órgãos se espalhou rapidamente entre os pobres como Silva e outros que se mudaram para as favelas locais, vindos do sertão calcinado do nordeste brasileiro. Alguns que venderam órgãos já estão comprando casas, carros, refrigeradores e abrindo negócios.
As quantias oferecidas parecem uma fortuna, pois o salário mínimo pago aqui mal chega a oitenta dólares, e é difícil encontrar trabalho. Muitos homens lutam para sobreviver fazendo bicos que pagam pouco mais de um dólar por dia. Quando este comércio teve início, os corretores de órgãos pagavam até 10 mil dólares por um rim, ou seja, mais de dez anos de salários.
Tendo visitado várias regiões do nosso território, Rohter o conhece mais do que a maioria dos brasileiros, que preferem fechar os olhos para questões amplamente discutidas internacionalmente, como a arte popular do cordel e dos repentistas.
Com faro investigativo, o correspondente traçou o perfil do Major Curió – responsável direto pela destruição da guerrilha do Araguaia –, refez o caminho de um “doador” de rim no mercado negro internacional – que o levou das favelas do Recife ao Brooklyn (EUA), passando pela África do Sul – e participou, junto com a Polícia Federal e uma equipe móvel do Ministério do Trabalho, em missões para desarticular fazendas que se utilizavam de mão-de-obra escrava no Pará.
Mas o livro não trata apenas de coisas ruins. Também mostra um Brasil inovador, com reportagens sobre a Embrapa, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e seus projetos de codificação genética, a Embraer e a produção agrícola que vem tornando o país em uma “superpotência agrícola”, no dizer de Colin Powell, antigo secretário de Estado norte-americano.
Temas culturais e sociais, como o tropicalismo, o carnaval, o cinema, nossos escritores e até mesmo vestibular e cotas para negros em universidades são discutidos. Rohter, que ganhou notoriedade nacional por ter sido o pivô de um “escândalo” com Lula e o PT após a publicação de uma reportagem que retratava a preocupação de setores políticos com o fato de que o líder estava exagerando no consumo de bebidas alcoólicas, destina parte do seu livro ao presidente, tendo uma opinião crítica e – em minha opinião – certas vezes exagerada, embora dentro dos limites do bom jornalismo.
Essa dica é, principalmente, para aqueles que cursarão Comunicação Social e para todos que têm interesse em entender como o Brasil é compreendido lá fora.
Trecho do livro: Deu no New York Times: o Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo (Larry Rohter)
Quando Alberty José da Silva descobriu que se vendesse seu rim poderia ganhar dinheiro, muito dinheiro, achou que esta seria a oportunidade de sua vida. Era exatamente o que isto também significava para uma mulher de 48 anos do Brooklyn, em Nova York, desesperadamente enferma, e cujos médicos a haviam aconselhado conseguir um rim de qualquer maneira.
Silva, hoje com 38 anos, é um dos 23 filhos de uma prostituta, em mora em uma favela próxima ao aeroporto daqui, em um barraco frágil de dois cômodos que divide com uma irmã e mais nove pessoas. “Quando eu era criança, eu me lembro de sete de nós dividindo um ovo, ou passando muitos dias sós dividindo um ovo, ou passando muitos dias só comendo um pouco de farofa com sal”, diz Silva em uma entrevista em sua casa. [...]
A notícia de um mercado de compra e venda de órgãos se espalhou rapidamente entre os pobres como Silva e outros que se mudaram para as favelas locais, vindos do sertão calcinado do nordeste brasileiro. Alguns que venderam órgãos já estão comprando casas, carros, refrigeradores e abrindo negócios.
As quantias oferecidas parecem uma fortuna, pois o salário mínimo pago aqui mal chega a oitenta dólares, e é difícil encontrar trabalho. Muitos homens lutam para sobreviver fazendo bicos que pagam pouco mais de um dólar por dia. Quando este comércio teve início, os corretores de órgãos pagavam até 10 mil dólares por um rim, ou seja, mais de dez anos de salários.
2 comentários:
Professor, só por curiosidade, quantos livros você leu esse ano? rss
Acho que uns 30, por aí... :)
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