Chegaram as férias! Verão, praia, sol, calor, descanso merecido após um ano de muitas privações. Momento ideal para relaxar, as férias também pedem boas leituras para aquelas horas em que ficamos estatelados numa rede, só vendo o tempo passar. Assim, iniciarei uma pequena seção com algumas indicações de livros aos que gostam de ler.
Hoje temos duas obras – 1968: o ano que não terminou, de Zuenir Ventura, e O poder das Barricadas: uma autobiografia dos anos 60, do intelectual marxista Tariq Ali.
Os dois livros versam sobre os anos sessenta do século XX, momento em que as utopias revolucionárias estavam em alta e parte da população – sobretudo os estudantes – acreditava que poderiam transformar a sociedade capitalista. Vivia-se a situação da Guerra Fria e seus conflitos periféricos, tais como no Vietnã e em Cuba, do movimento hippie, das barricadas parisienses em maio de 1968. Era um período de sonhos, mas também de várias decepções. No Brasil, a ditadura acentuava sua repressão com a cassação de homens públicos, prisão e tortura indiscriminada de “criminosos políticos”. A MPB subia aos palcos para protestar contra as arbitrariedades do governo Costa e Silva, tendo Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré à frente. No entanto, a despeito de todo cenário político, os anos 1960 também foram compreendidos como revolucionários nas formas de encarar a sexualidade e a família. Dessa forma, entender os anos 1960 é substancial para quem quer compreender o mundo atual, pois várias alterações sócio-culturais advieram daquela década.
O tema de Zuenir Ventura é o 1968 brasileiro, com suas repercussões políticas e culturais. Já Tariq Ali discute o contexto internacional a partir da sua experiência de vida, uma vez que foi militante em vários movimentos da época, além de ter viajado para o Vietnã, a China, a Coréia do Norte, a Bolívia, a França, a URSS, dentre outras regiões, onde viu, in loco, as disputas daqueles anos.
Sugiro a leitura dos dois livros. São fáceis de ler e, empolgantes, nos levam a querer mudar o mundo!
Trecho do livro 1968: o ano que não terminou (Zuenir Ventura):
Era difícil ser indiferente naqueles tempos apaixonados. Também, havia muito o que discutir. Discutia-se nas universidades, nas assembléias, nas passeatas, nos bares, nas praias: a altura das saias, o caráter socialista da revolução brasileira, o tamanho dos cabelos, os efeitos da pílula anticoncepcional, as teorias inovadores de Marcuse, as idéias de Lukács, o revisionismo de Althusser.
Os temas eram infindáveis, tanto quanto a duração dos debates. Mais do que discutir, torcia-se: pela vitória dos vietcongues, a favor ou contra as guitarras elétricas na MPB, por Chico ou Caetano, pela participação política dos padres e, claro, contra a ditadura.
Trecho do livro O poder das barricadas: uma autobiografia dos anos 1960 (Tariq Ali):
- Por que X? – caçoara Berkely. – Por que não Malcom A, C ou mesmo Z? Com certeza Malcolm Z soa melhor!
Malcolm X [líder do movimento negro norte-americano] retesou-se levemente, mas manteve a calma. Mais tarde, quando foi sua vez de encerrar o debate, ele permitiu que sua voz se elevasse um pouco e a raiva reprimida se fez sentir em toda a sala. Ele explicou porque se recusara a continuar usando o sobrenome de um senhor de escravos, e mostrou como a escravidão degradara os brancos e oprimira os negros. Recordou à Oxford Union que a Grã-Bretanha tivera um papel de liderança no comércio de escravos e muitos membros da chamada nobreza haviam enriquecido com a compra de seres humanos negros. As mãos da classe dominante britânica estavam manchadas com o sangue dos negros que haviam morrido de doenças nos porões apinhados dos navios negreiros ou trabalharam até a morte prematura no Novo Mundo. Quando terminou, Malcolm fitou Berkely e disse:
– Foi por essas razões, sr. Berkely, que decidi me chamar X.
Houve um silêncio momentâneo e em seguida ele foi longamente aplaudido. No final do discurso, que evocara a luta dos negros nos Estados Unidos e nos três continentes, Malcolm X recebeu uma ovação emocionante, com todos de pé. Poucos que ouviram aquele discurso conseguiriam esquecer seu impacto.
Hoje temos duas obras – 1968: o ano que não terminou, de Zuenir Ventura, e O poder das Barricadas: uma autobiografia dos anos 60, do intelectual marxista Tariq Ali.
Os dois livros versam sobre os anos sessenta do século XX, momento em que as utopias revolucionárias estavam em alta e parte da população – sobretudo os estudantes – acreditava que poderiam transformar a sociedade capitalista. Vivia-se a situação da Guerra Fria e seus conflitos periféricos, tais como no Vietnã e em Cuba, do movimento hippie, das barricadas parisienses em maio de 1968. Era um período de sonhos, mas também de várias decepções. No Brasil, a ditadura acentuava sua repressão com a cassação de homens públicos, prisão e tortura indiscriminada de “criminosos políticos”. A MPB subia aos palcos para protestar contra as arbitrariedades do governo Costa e Silva, tendo Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré à frente. No entanto, a despeito de todo cenário político, os anos 1960 também foram compreendidos como revolucionários nas formas de encarar a sexualidade e a família. Dessa forma, entender os anos 1960 é substancial para quem quer compreender o mundo atual, pois várias alterações sócio-culturais advieram daquela década.
O tema de Zuenir Ventura é o 1968 brasileiro, com suas repercussões políticas e culturais. Já Tariq Ali discute o contexto internacional a partir da sua experiência de vida, uma vez que foi militante em vários movimentos da época, além de ter viajado para o Vietnã, a China, a Coréia do Norte, a Bolívia, a França, a URSS, dentre outras regiões, onde viu, in loco, as disputas daqueles anos.
Sugiro a leitura dos dois livros. São fáceis de ler e, empolgantes, nos levam a querer mudar o mundo!
Trecho do livro 1968: o ano que não terminou (Zuenir Ventura):
Era difícil ser indiferente naqueles tempos apaixonados. Também, havia muito o que discutir. Discutia-se nas universidades, nas assembléias, nas passeatas, nos bares, nas praias: a altura das saias, o caráter socialista da revolução brasileira, o tamanho dos cabelos, os efeitos da pílula anticoncepcional, as teorias inovadores de Marcuse, as idéias de Lukács, o revisionismo de Althusser.
Os temas eram infindáveis, tanto quanto a duração dos debates. Mais do que discutir, torcia-se: pela vitória dos vietcongues, a favor ou contra as guitarras elétricas na MPB, por Chico ou Caetano, pela participação política dos padres e, claro, contra a ditadura.
Trecho do livro O poder das barricadas: uma autobiografia dos anos 1960 (Tariq Ali):
- Por que X? – caçoara Berkely. – Por que não Malcom A, C ou mesmo Z? Com certeza Malcolm Z soa melhor!
Malcolm X [líder do movimento negro norte-americano] retesou-se levemente, mas manteve a calma. Mais tarde, quando foi sua vez de encerrar o debate, ele permitiu que sua voz se elevasse um pouco e a raiva reprimida se fez sentir em toda a sala. Ele explicou porque se recusara a continuar usando o sobrenome de um senhor de escravos, e mostrou como a escravidão degradara os brancos e oprimira os negros. Recordou à Oxford Union que a Grã-Bretanha tivera um papel de liderança no comércio de escravos e muitos membros da chamada nobreza haviam enriquecido com a compra de seres humanos negros. As mãos da classe dominante britânica estavam manchadas com o sangue dos negros que haviam morrido de doenças nos porões apinhados dos navios negreiros ou trabalharam até a morte prematura no Novo Mundo. Quando terminou, Malcolm fitou Berkely e disse:
– Foi por essas razões, sr. Berkely, que decidi me chamar X.
Houve um silêncio momentâneo e em seguida ele foi longamente aplaudido. No final do discurso, que evocara a luta dos negros nos Estados Unidos e nos três continentes, Malcolm X recebeu uma ovação emocionante, com todos de pé. Poucos que ouviram aquele discurso conseguiriam esquecer seu impacto.
4 comentários:
Se puder dar outra dica, aí vai: Olga, de Fernando Morais. Comprei e recomendo, uma boa maneira de se manter lendo nas férias!
Obrigado professor, com certeza, é uma excelente dica para passarmos nossas férias!!! obrigadoooooo...
Curioso João, nunca tive a oportunidade de ler livros diretamente ligados a história geral, inda mais do Brasil.... como já havia comentado. Mas fica anotado as sugestões de leitura...
Só para lembrar o meu blog:
http://portalcine.wordpress.com
Vlw pela dica.
Uma dica boa é Não Verás País Nenhum de Ignácio de Loyola Brandão.
Tchau.
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