sábado, 20 de dezembro de 2008

Para gostar de ler.(parte 12)

Crônica de Natal
Autor: Aldemar Paiva - adapt. Rolando Boldrin

Não, eu não gosto de vancê, Papai Noé.
Também não gosto desse seu papé
De ficá aí vestido de vermeio
Vendendo ilusão pra tar de burguesia.
Se os meninos pobre da cidade,
Soubesse o desprezo que o sinhô tem
Pela humirdade, eles jogavam pedra em sua fantasia.

Vancê, tarvêz num se alembre mais..
Faz muito tempo...
eu cresci, me tornei rapaz
Mas nunca esquecí aquilo que passô.
Foi assim:
Eu tinha escrevidoum biete prô sinhô
Pedindo o meu presente..
A noite inteira eu esperei contente..
Raiou o dia...Chegou o sor...
Mas vancê.. não chegô.

Inté chorei...desconsolado...
Então, dias despois, meu pai
Coitado, me apareceu com um trenzinho
Véio enferrujado..
Ponhô na minha mão e disse assim:
Toma...é seu..
-Pra mim, pai ?
- Sim. É pra vancê...
Foi o papai Noé que mandô.
E aí vi quando ele, uma lágrima
Desfarsô, de emoção...

Eu Inocente, nesse caso,
Maginei que o meu biete com atraso,
Tinha chegado im sua mão, naquela hora.
Então, contente, limpei o MEU trezinho
Bem limpado, dei corda nele ele partiu...
Deu muitas vorta... meu pai do lado ...me olhou
Se riu... me abraçou...e foi-simbora.

Passado mais uns dia
Meu pobre pai , de repente vortou.
Vinha assim
Como quem ta com medo
E falou pra mim:
Me dá aqui aquele seu brinquedo
Eu vou trocá por outro na cidade.
E eu... sem vontade
Fui entregando pra ele
O MEU trezinho, quage a saluçá...

E como quem num qué abandoná
Um mimo que lhe deu quem
Lhe qué bem Eu supriquei medroso:
Ô pai...eu só tenho ele..
Eu num quero outro brinquedo
Eu quero aquele
Por favor, pai...
Num vá levá meu trem
Ele nem me ouviu...
Correndo, bateu a porta e saiu
Como um doido varrido
Minha mãe gritô pra ele: José ?
Ele nem deu ouvido...
Foi-se imbora e nunca mais vortô.

Pois é..papai Noé.
Vancê me transformô
Num homi que hoje
Despresa a infância e o dia de Natá.
Sem meu pai..
Sem brinquedo afiná...
dos seus presente,
Num hai um que sobre
Da riqueza pra esses menino pobre
Que sonha o ano inteiro
Com a noite de Natá.

E só bem despois que eu cresci
Foi que tudo compriendí.
Naquele do tar trenzinho
Meu pai de mim compadecido
Num gesto humano e decidido
Pagou bem caro a minha ilusão;
Foi longe demais, coitado.
imaginando que pro seu fio aquilo era um bem
Tinha roubado do fio do patrão aquele trem.

Quando ele sumiu da última vêz,
Pensei que tinha viajado
No entanto, Minha mãe despois que eu fiquei
Moço, em pranto...
Me conto que ele foi preso
E transformado em RÉU.
Pra absorvê meu pai
Nenhum amigo ou parente se atreveu.
E o pobre definhando na cadeia
Foi indo...indo...Inté o dia
Em que Deus, entrou naquela
Cela, e libertou ele pro céu.

Nota do Blog: desculpem o teor triste da nossa mensagem de natal. Todavia, um blog de História e Geografia até nestes momentos de festas para alguns, não pode deixar de externar a preocupação com o social. O poema acima, remete-nos ao natal dos excluídos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que bom que você voltou a postar. Já se percebe... fantástico esse texto e a gravura. Acho incrível sua sensibilidade pra ver as coisas. Parabéns.

P.S.: Se voce tiver problemas com seu computador não deixe de postar; vai pra uma lan house. seus leitores agradecem.

Adailton Figueiredo disse...

Anônimo,

muito gentil seu comentário. Obrigado.

Elaine disse...

O texto é mesmo muito triste, mas infelizmente, retrata bem o natal de tantas pessoas. Enquanto nós nos confraternizamos em família com uma linda ceia, grande parte das pessoas do mundo mal tem o que comer, o que vestir, com quem se confraternizar. Não é justo. Não dá pra se conformar com esse natal de tantas desigualdades e hipocrisias.

Anônimo disse...

É... Me lembra uma realidade mascarada pela mídia. Onde mostra tudo bonitinho tudo especial. Já reparou? Todo tipo de programa agora é especial de num sei o quê. Como se o sofrimento de muitos não existissem. Mas tbm temos quadros interessantes que mostram uma preocupação. Achei muito bonito ontem no Fantástico aquela entrega de presentes para crianças pobres por algums destaque no esporte ou no meio artístico. Me emocionei muito com o minino que pediu um queijo. Me deixou curioso. Daí explicaram que ele tinha gostado do queijo que a vizinha havia dado um pedaço. Nossa foi tocante ali. Feliz Natal pra vc.

Adailton não foi meu professor, mas todo dia me ensina muita coisa. Muito obg. Divulguem bastante o blog. É de uma qualidade ímpar.

Adailton Figueiredo disse...

Lucas Wallace,

Obrigado pelos elogios ao nosso o blog e ao meu modesto trabalho. Que Deus te ilumine.