Cutucado pelos espinhos da crise econômica internacional, pelo inchaço dos índices do candidato José Serra, governador de São Paulo, nas últimas pesquisas, e pelo reconhecimento da mediocridade da lista dos aspirantes petistas que não podem ser levados a sério, o presidente Lula decidiu ir para o tudo ou nada com a sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, e mergulhar de cabeça nas águas da campanha.
É inútil desviar o rumo da conversa para a avaliação se este é o melhor ou o pior momento para saltar as ameaças de uma recaída na praga na inflação na faixa decisiva de 2009, pois, a partir de agora, qualquer recuo será uma confissão do fracasso de Dilma – primeira e única – e do comando do maior líder popular da História deste país. Sem ironia ou despique: é a simples constatação de uma evidência, mensurada pelos 70% de aprovação da última pesquisa.
Com o desconto do coro desafinado do cordão que, se não aumenta, também não apresenta grandes baixas, Lula está com a faca e o queijo para apostar na tática de aceitar o desafio de puxar a candidatura da sua favorita do buraco de um mísero dígito nas pesquisas, antes que vá a pique.
O PT que não se alistou no coro do oba-oba encolhe no silêncio das suas dúvidas. De três parlamentares petistas com quem conversei na informalidade de um encontro casual, ouvi as apreensões com os riscos de uma candidata que, mesmo lançada e apoiada por Lula, aspira chegar à Presidência da República sem jamais ter disputado uma eleição.
Na entrevista ao escritor e jornalista Fernando Morais para a revista Nosso Caminho, Lula anuncia a retomada da ofensiva, sem passar recibo nos seus óbvios temores. Como não é dos seus hábitos modular as palavras para não ferir os ouvidos da platéia, foi às do cabo: “Eu acho que a Dilma está fortemente qualificada. Seja do ponto de vista da sua história política, da competência técnica e de como pensa o Brasil e o mundo. A Dilma está infinitamente preparada para ser candidata e ganhar as eleições”.
Lula sabe que não é bem assim. Se fosse, a tática lógica seria inversa: de retardar ao máximo a campanha eleitoral para não misturar com o mutirão que desafia o governo no próximo ano, com as obras do Projeto de Aceleração do Crescimento – a sigla mágica do PAC – para atrair votos e a abertura da nova frente de aflitiva urgência e inquestionável prioridade para a recuperação das áreas de Santa Catarina, Espírito Santo e estado do Rio devastadas pela maior enchente do século, com mortes, casas derrubadas, pontes e estradas em pandarecos e milhares de vítimas sem ter onde morar.
Gente que não pode aceitar o conselho presidencial para derrubar a crise comprando o que precisa ou apenas deseja para não interromper a corrente da felicidade: quem tem emprego, tem salário e deve comprar tudo que deseja mesmo se encalacrando nos juros de prestações a perder de vista, para que as lojas continuem mantendo os estoques e as empresas continuem fabricando.
Tão fácil e lógico. Como é que ninguém descobriu antes a ciranda da eterna bonança?
Villas-Bôas Corrêa, Jornalista.
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