Na pré-história o homem “levava” uma vida nômade, permanecendo em cada localidade enquanto havia alimento disponível e se deslocando a outro ponto logo que a oferta de mantimentos findava. Talvez seja esta raiz atávica do desejo de conhecer novos lugares que mova a humanidade sobre a face da terra. Nos casos em que ocorre o deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm residência fixa, sem o objetivo de exercer atividade remunerada no local que visita, o homem está fazendo “turismo”.
Natal é uma cidade turística. Esta é uma vocação que tem se consolidado desde meados do século XX e progressivamente começou a se expandir por todo o RN desde a última década de 80. A Organização Mundial do Turismo afirma que esta atividade econômica proporciona a realização de negócios em 52 setores da economia. O turismo está presente na vida do potiguar em diversas escalas e este tema foi tratado de forma abrangente no Seminário Motores do Desenvolvimento do RN 2008, relevante fórum de discussão apoiado por diversas entidades, inclusive o jornal Tribuna do Norte.
Dentre os tantos aspectos do turismo que foram abordados no evento, esteve em pauta a questão da infra-estrutura, um componente básico do “produto turístico”, ao lado dos atrativos locais. Um estudioso do tema, Balanzá, define a infra-estrutura turística como o conjunto de elementos criados de maneira a permitir que o turista atenda às suas necessidades básicas e desfrute dos atrativos do destino. Outro autor da área é Beni, que classifica a oferta turística em “original”, composta pelo atrativo em si, e em “agregada”, composta pelos transportes e diversas formas de alojamento, lazer e recreação, pelos organizadores e agências de viagens, pelos prestadores de serviços alimentícios e de informação turística. Daí se percebe que para um destino ser turístico não basta dispor de atrativos naturais, mas é fundamental a infra-estrutura que dá suporte à atividade, permitindo que o turista tenha acesso aos pontos de interesse, possua condições de permanência e de usufruto da localidade.
O transporte é o fator básico que possibilita que o visitante tenha acesso ao destino desejado, daí a importância da atividade turística incluir no seu planejamento de longo prazo os transportadores aéreos, terrestres e marítimos, assim como estar atenta à infra-estrutura logística que possibilita a movimentação dos veículos, ou seja, estradas, aeroportos, terminais rodoviários e hidroviários.
O RN está construindo um aeroporto de grande porte na cidade de São Gonçalo do Amarante, idealizado para receber vôos de toda a América do Sul e originar partidas para este e os demais continentes da Terra, e vice-versa. A proposta é que o Aeroporto de São Gonçalo se torne um HUB, ou seja, um ponto de transferência para passageiros e cargas que se transportam de diferentes aeroportos, passando por um local de concentração. Esta estratégia permite atrair tráfego local e passageiros em transferência para vôos de ligação, que se dirigem para outro destino que não o aeroporto HUB.
Como foi muito bem colocado pelo presidente da FIERN Flávio Azevedo, no seminário Motores do Desenvolvimento, é fundamental que haja uma visão de funcionamento multimodal do aeroporto, onde o planejamento dos fluxos de pessoas e cargas é feito desde as suas origens até os destinos finais, incluindo todos os modos de transporte e a infra-estrutura que viabilizará este funcionamento integrado. É necessário que as diversas esferas do governo e a iniciativa privada dirijam esforços a um ponto comum, para que o projeto ocasioneB o efeito desejado.
O governo de Minas Gerais pôs em andamento o projeto de tornar o Aeroporto Internacional Tancredo Neves um HUB logístico multimodal, primeiro passo do Estado para a implantação de um aeroporto-cidade, a exemplo dos atuais 16 em construção no mundo e dos já existentes em Amsterdam e em Cingapura. O conceito de Aeroporto-Cidade pressupõe o planejamento integrado de um aeroporto industrial, da ocupação ordenada da região de entorno, da atração de empresas com produtos e serviços de alto valor agregado para exportação e mercado interno, de distritos industriais com tecnologia de ponta, de vias de acesso duplicadas e conservadas, de rede de ensino, complexos residenciais, hotéis, áreas de lazer e cidades vizinhas com qualidade de vida. É um imenso e planejado passo além do aqui e agora.
A lição que fica é que para que a cadeia produtiva do turismo seja sustentável, competitiva e bem sucedida, alcançando eficiência econômica e ofertando o nível de qualidade esperado pelos clientes do produto turístico, são necessárias ações integradas das suas componentes, com visão de longo prazo, foco no consumidor final e nos demais agentes do entorno: a população e o meio-ambiente.
Karla Motta - Arquiteta e Urbanista.
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