sábado, 13 de dezembro de 2008

Abandonar a ganância para salvar o sistema

O início do século XXI nos coloca diante de enormes tensões. Uma corrosiva desesperança espalha-se pelo mundo global e impõe a necessidade de repensar e renegociar, a partir dos impasses surgidos, as bases fundamentais do tipo de sociedade que queremos.
Por outro lado, aquele discurso hegemônico neoliberal do pós-guerra fria, que garantia aos países da periferia uma nova era de prosperidade, mostrou-se ineficaz. Os resultados foram, em geral, decepcionantes, justamente no momento em que os efeitos sociais perversos da privatização aparecem com toda força, reduzindo ainda mais a legitimidade dos governos e dos políticos.

A referência à cidadania não desapareceu, mas resume-se a participação nas eleições, numa sociedade de massa totalmente aberta à propaganda e amplamente entregue aos apelos mercantis e ao modismo. Como conseqüência desses impasses, um dos dilemas da política contemporânea é a aversão à esfera pública, ocasionando assim sua degradação.

Desapareceu a divisão estrita entre Estado, sociedade civil e espaço privado. O espaço público, essencial à democracia, converteu-se em espaço publicitário e midiático. E os cidadãos que freqüentam esses espaços não o fazem mais enquanto cidadãos, mas como consumidores de marcas, informação, e entretenimento. Valemos tanto quanto o saldo de nossa conta bancária.

O mundo tem aprendido que a economia global apresenta riscos muito maiores do que poderíamos imaginar. A lógica da globalização e do fracionamento das cadeias produtivas, muito oportunas para a pujança do capitalismo contemporâneo, incorporou os bolsões de força de trabalho barata mundiais, sem necessariamente elevar-lhes a renda.

Os postos formais crescem menos rapidamente que os investimentos diretos. E se surgem oportunidades bem-remuneradas no trabalho flexível, o setor informal também acumula o trabalho muito precário e a miséria.

As grandes corporações transnacionais, responsáveis pelo desenvolvimento das opções tecnológicas, reforçam o desemprego estrutural alegando - compreensivelmente - que sua missão é competir e crescer, e não necessariamente gerar empregos. Aliás, as demissões já estão assustando trabalhadores do mundo inteiro.

A ordem é gestão monetária de acordo com as regras do FMI, reformas políticas ditadas por objetivos econômicos, metas rígidas de inflação, orçamento superavitário, liberação do comércio, liberdade de capitais, Estado social reduzido ao mínimo. Essas são condições indispensáveis a uma boa pontuação, tipo "risco Brasil".

Finalmente, após o 11 de setembro (2001), o crime organizado e os grupos terroristas adquiriram a condição de novos e importantes atores globais, concorrendo com os Estados, os partidos políticos, os atores econômicos e a sociedade civil.

Como devemos entender essa nova escala do terrorismo? Como uma ação criminosa ou como uma declaração de guerra em defesa de valores? Se os adeptos do Islã agem segundo a vontade de Alá e seguem o livro sagrado "o Corão", podemos afirmar que seus atores lutam por um mundo mais justo? Não sei.O fato é que a ausência progressiva dos Estados nacionais forma o caldo de cultura para o crescimento do terrorismo e do crime organizado. E as novas tecnologias são um arsenal de ferramentas eficazes à disposição da matança em massa. Os riscos provocados pelo terrorismo, no entanto, têm natureza muito diferente dos riscos ecológicos a que também vivemos expostos, por ação dos agentes econômicos.

Os primeiros provocam deliberadamente a catástrofe, fazendo disso uma arma política; os últimos são conseqüências de ações indiretas, imprudentes ou levianas, tendo o lucro máximo como única motivação.

Será que a lógica do sistema continua sendo a mesma do século passado, qual seja a de perseguir sempre o lucro máximo? Será que a crise financeira (real, moral ou psicológica?) atual que levou os EUA, e o mundo, à recessão é resultado desta mesma lógica?

Resumo da ópera: a Barack Obama, não basta ser elegante e ter a pele escura para dar conta do recado, há que ser capaz de articular para inverter as grandes tendências, ou seja, trocar o monetarismo pelo desenvolvimento sustentável, submetendo as metas econômicas às políticas sociais e, principalmente, reduzindo as margens de lucro, a ganância, do capital financeiro; se quiser salvar o sistema.

Autor: Rinaldo Barros, professor da UERN

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