Salvo um erro lendário igual ao de 1948, quando Harry Truman dormiu derrotado e acordou vitorioso, o próximo presidente dos EUA será Barack Obama. A novidade da escolha: é o primeiro negro a sentar-se no trono da Casa Branca - como Kennedy foi o primeiro católico.
Apesar de ser o favorito das minorias, e, naturalmente, dos jovens, não seria eleito se boa parte da América branca não tivesse ao seu lado. Como candidato, tem alguns atributos que fazem à diferença em relação a John McCain. É carismático. Na campanha televisiva, é um bom ator. Parece até um ator vivendo um personagem de ficção - uma versão fílmica de Sidney Poitier.
É uma duplicata americana do anti-cacique potiguar. Ou seja: McCain é visto como o homem do sistema, dos poderosos, dos milionários. Na prática, porém, as coisas não são como parecem ser. Obama arrecadou muito mais dinheiro do que o candidato Republicano. E mais: é o preferido da maioria da imprensa - outra semelhança com Kennedy.
A sorte também está a favor dele. Não bastasse a impopularidade do republicano George W. Bush e o desgaste da guerra do Iraque, a Casa Branca foi tragada por uma crise econômica que transformou o sonho americano em pesadelo. E nos EUA crise financeira é sinônimo de derrota eleitoral.
Uma das táticas do candidato Democrata foi associar a imagem de McCain a de Bush. Para o eleitor, que só vê televisão, a eleição de McCain seria a continuação de George W. Bush. E um novo Bush, a América não quer. Resta perguntar: e porque naquela ocasião não optou por Al Gore? - a manipulação da votação da Flórida só fez a diferença no placar porque a eleição estava nacionalmente empatada.
A sorte tem permanecido junto com Obama até na hora em que McCain optou pela escolha de Sarah Palin, partindo do pressuposto que seria uma nova Hillary Clinton. A escolha da estabanada Sarah resultaria num tríplice equivoco: como governadora do Alasca, não trouxe votos; não tem a experiência e a astúcia de Hillary; não seduziu o eleitorado feminino.
Em relação à Sarah Palin, há também uma questão subjetiva: e se McCain (72 anos) morrer ou ficar impossibilitado de governar. Há um consenso de que ela não está preparada para assumir a Presidência. A exemplo de um presidente muito conhecido entre nós, Sarah também é chegada a bravatas: "Não podemos deixar a Russia fazer o que quer. Se necessário, para defender os interesses da América, invadiremos a Rússia". Como se vê, o limite máximo de Sarah é o Alasca.
E Obama será muito diferente de McCain? Ser candidato é uma coisa, ser presidente é outra - e completamente diferente. A idéia de que será o salvador da América (e, por extensão, do mundo) é puro marketing eleitoral. Alem disso, Obama já "esqueceu" algumas promessas de campanha. A mais notória: a de que tiraria as tropas do Iraque. Não vai sair de lá, entre outros motivos, porque Israel não quer. Não teve coragem de responsabilizar a crise à ganância ao sistema financeiro, limitando-se, para canalizar eleitoralmente o desespero da classe média, atribuindo-a ao governo Bush. Foi McCain quem no debate na televisão disse, sem subterfúgios: "a responsabilidade é de Wall Street (dos banqueiros)". E mais: "o governo errou em não ficar ao lado dos órfãos da crise". É por isso que tem dito e repetido: "Eu não sou Bush".
A América, porém, já fez a sua opção.
Autor: Valério de Andrade
Um comentário:
Bastante lúcido o artigo. É importante que o povo coloque na cabeça a idéia desse último parágrafo. A partir do próximo ano veremos até que ponto vai a "mudança" pregada por Obama e a quem ela irá beneficiar de fato.
No mais, acho que é a hora de começarmos a nos preparar, pois 2010 vem aí...
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