sábado, 15 de novembro de 2008

Crises e corrupção




As crises e as suas soluções pelo o que tem demonstrado a História, quase sempre, se repetem literalmente ou, quando alterados, guardam a mesma essência.


Os grandes obstáculos e vícios humanos, registrados há milênios, são os mesmos do século contemporâneo ou, mais precisamente, dos dias de hoje.


Os crimes bárbaros, a corrupção, a licenciosidade moral, a crise econômica, os entraves e vícios da administração pública são iguais ou assemelhados aos imemoriais tempos do Velho Testamento.


Será que os discursos salvadores dos Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (do Brasil), Barak Obama (Americano recém eleito), Vladimir Putim (da Rússia), de Fidel Castro (de Cuba), do Primeiro Ministro Tony Blair (da Inglaterra) são diferentes dos antigos apelos de Abraham Lincoln (Estados Unidos), do Imperador Pedro I (Brasil), Luiz XV (França), do Imperador Júlio César (da Velha Roma), Napoleão Bonaparte (da França), Joseph Stalin (da antiga União Soviética) ou até do famigerado Adolfo Hitler (Alemanha)?


O assunto, há milhares de anos, sempre girou em torno do perigo da recessão, balança comercial, equilíbrio orçamentário, cobrança de impostos, dívida pública, imperialismo e domínio estrangeiro, parasitagem no serviço público e, ao lado de tudo isso, a corrosiva e institucional corrupção.


Vejamos que o tempo e a realidade material da terra mudou, mas as aflições e verdades humanas continuam inalteradas.


Na velha Roma, o inesquecível sábio Marcus Túlius Cícero, no ano 55, antes do nascimento de Jesus Cristo, prescrevia quatro receitas para a solução dos problemas da nação romana: (1) o orçamento dever ser equilibrado; (2) as dívidas públicas devem ser reduzidas; (3) a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada; (4) os pagamentos a governos estrangeiros devem ser reduzidos se a nação não quiser ir à falência; e, (5) as pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública.


A realidade política, econômica, social e moral do Brasil atual não é diferente da realidade de 1879, quando no mês de junho, o conceituado e vetusto jornal "Folha de São Paulo" publicava a crônica intitulada "A República" da lavra de Clóvis Bevilaqua, conforme textuais palavras infra: "Quando na solidão do meu Gabinete contemplo o Brasil que agoniza no leito das torturas invectivas e indecorosas que mutuamente se assacam os bandos políticos que, como lobos famintos, disputam entre si as migalhas de um poder degenerado; quando constato o estado de apatia coletiva que mais parece uma saliência do caráter nacional enquanto o povo entorce-se nas garras aduncas da miséria, da ignorância e do vilipêndio , quando vejo a honra e o talento abatidos pela exaltação da mediocridade bem sucedida dos charlatões e pusilânimes da causa pública; e quando descortino o horizonte da impunidade e da desesperança, eu me pergunto: não haverá um único homem que, purificado o trato das instituições, sustenha a pátria que resvala para o abismo, no fundo do qual irá encontrar o seu esfacelamento? Como resposta aterradora, recolho o silêncio e o desânimo".


E Jesus quando, tomado de revolta, gritava aos fariseus: "raça de víboras e hipócritas", será que, hoje, não ficaria rouco de tanto admoestar os humanos modernos e civilizados da cibernética globalizada contemporânea?


E o velho Rui, a Águia de Haia, será que repetiria o seu inflamado discurso no Congresso Nacional em que afirmava "a vergonha de ser honesto ante o predomínio dos maus e a massificação dos ímpios".


Por último, que argumentos usaria o inesquecível mestre Capistrano de Abreu ao presenciar a crônica doença legiferante do nosso país com Constituição nova em 1967, outra Carta em 1969, mais outra em 1988 e, agora, com emendas e mais emendas a dilacerar a ainda Constituição Cidadã. Será que ele não repeteria: "O Brasil precisa de uma única lei, com apenas dois artigos, sendo o primeiro: que todos brasileiros tenham vergonha na cara e o segundo: revoguem-se as disposições em contrário "


Daí se depreender que em qualquer sistema, regime, partido ou época, pouco muda a realidade dos fatos, apenas perduram a esperança eterna do povo e o ideal de alguns poucos dirigentes. O resto é balela ou silogismo bem vendido!...


Afinal, qualquer crise, notadamente econômica, tem origem na corrupção dos valores éticos e jurídicos quer por atos comissivos ou omissivos...


Apesar de tudo, não posso nem devo, deixar-me levar pelas falaciosas promessas dos radicais de direita ou de esquerda e, menos ainda, dos súditos anarquistas de Bakurin, nem pelo pessimismo fatalista de Augusto dos Anjos ou o desespero de Álvares de Azevedo "que me importa se o mundo se esboroe e desabe, se para mim a natureza é morta...".


Antes, porém, prefiro a dose de ânimo, otimismo, fé e crença do francês André Gide, que na sua elegância européia e pureza à brasileira prelecionava "todas as coisas já foram ditas, mas como ninguém as escuta, é preciso sempre recomeçar...!"


Autor: Adalberto Targino
E-mail: Procurador, advogado e professor (jtarginoaraujo@yahoo.com.br)







Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sempre penso assim também,que tudo,tudo que vivemos nos dias de hoje é herança do passado. Até as coisas simples do dia a dia.É incríveel!