sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cultura: Projeto Seis e Meia.

Reproduzo, abaixo, texto meu, publicado no jornal Diario de Natal, em defesa do Projeto Seis e Meia.
Precisa-se de Música.

Senhor Editor,

Neste país de muitas vítimas e de alguns ladrões, permita-me, também, roubar seu tão valioso tempo. Sou leitor assíduo desse conceituado jornal e algumas vezes, em se tratando de cultura, discordo de suas posições; na verdade, pouquíssimas vezes. Admiro-o, senhor editor; mais ainda, respeito-o. Aliás, admiração e respeito, nesta taba de Poti e outros índios é coisa que raramente alguém confessa... confissão, por essas bandas, nem nos tribunais...

Todavia, a missiva eletrônica, sobre a qual seus olhos passeiam agora, é na verdade, um clamor; para os mais versados em assuntos eclesiásticos é uma ladainha, em prol de um evento sério e tradicional chamado “Projeto Seis e Meia”, que acontece, há doze anos, todas as terças-feiras, no nosso resistente Teatro Alberto Maranhão. Desde o primeiro projeto, com Nico Rezende, venho acompanhando as sagas de Zé Dias e de William Collier. Nunca perdi um show. Nenhum. Tenho assistido, ano a ano, mês a mês, semana a semana, as dificuldades crescentes para a sua continuidade. Ao que parece, a maioria de nossos empresários não sabem das dificuldades do projeto, ou melhor, sequer da existência do mesmo. Cultura nesta província de Câmara Cascudo vale menos que eleitor, após eleição. Defendi, defendo e defenderei o projeto. É simples minha bandeira: não sou empresário de nenhum artista local; tampouco, nacional. Jamais, tirei vantagem financeira de nenhuma das mais de 750 apresentações que desfilaram nos palcos do TAM, algumas memoráveis. Fui, e digo isto com o orgulho dos privilegiados, testemunha de grandes momentos. Vi a beleza e a leveza da música, através do Delicatto e nem bem este começa sua carreira não recebe a autenticação de alguns tabeliões da cultura desse cartório de beira de Potengi poluído. Fui testemunha emocionada do vigor nordestino nas cantigas de Galvão Filho. Sua música é Açude de Luz e tem a Energia dos Cristais, como ele próprio afirma. Encantei-me e, comigo, toda platéia do teatro, com a suavidade da mulher cangaceira na visão e interpretação de Babal, outro filho de seu Severino Galvão. Descobri Khristal, sua força e empolgação, se fazendo voz de Manoel Marinheiro, cantando coco, como se o ritmo estivesse sendo criado naquele momento no coração dela, e encantando em algum canto do céu Jackson do Pandeiro. Testemunhei a qualidade vocal de Wigder Vale; afinado e sóbrio nas suas interpretações, a ousadia e o resgate de nossas raízes com um grupo como o Pedubreu ou então a magia de um Cleudo, o talento do Café do Vento. A qualidade que habita as esquinas desta terra de Dozinho, Tonheca Dantas e Othoniel Meneses, desfila no palco da nossa principal casa de espetáculo. Foi neste projeto, meu caro Editor, que tive o prazer de atestar o talento de músicos como Diogo Guanabara, Antônio de Pádua, Di Stefano, Jorge Moura, Júnior Primata, Serginho Grover, Jubileu, Eduardo Tauffic, Gilberto Cabral, Carlinhos Zens, Fernando Botelho e tantos outros.

Pelo exposto, caro editor, o projeto já se justifica e não deve mais pedir permissão de continuidade a ninguém. É patrimônio cultural da cidade e do Estado. É referência nacional, segundo os próprios cantores e compositores de renomes nacionais que são convidados como atrações principais. E sobre eles, os nomes nacionais, reservar-me-ei ao direito de apenas citar alguns: Fagner, Chico César, Zeca Baleiro, Lenine, Rita Ribeiro, Francis Hime, Leila Pinheiro, Selma Reis, MPB-4, Alceu Valença, Belchior, Tunai, Oswaldo Montenegro, Paulinho Moska, o saudoso Sivuca e Glorinha Gadelha, Dominguinhos, Xangai, Luiz Melodia e tantos outros. Cito-os apenas, pois meu objetivo é justificar a manutenção de tal relevante projeto musical, pela óptica do talento local.

Portanto, senhor editor, caros leitores, senhores empresários, políticos e estudantes, amantes da boa música, assistam, ao menos, uma vez, a uma das sessões do Projeto Seis e Meia, e lutem pela revitalização de um evento que em nome da cultura e do bom senso não pode morrer... Que Orfeu, o deus da música, nos guarde hoje e sempre... amém.
(Adailton Figueiredo é professor de História).

8 comentários:

Anônimo disse...

Ai seu soubesse escrever assim!!!!!! ô "caba" prá escrever bem... melhor que meu professor de produção de texto.todo texto teu é paw. Pq tu não fez letras?????

Adailton Figueiredo disse...

Anônimo,

Obrigado pelo elogio. Minha opção por história foi muito precoce; eu tinha 12 anos quando descobri que queria ser professor de História: é coisa de coração e o coração tem razões que a própria razão desconhece!

Anônimo disse...

apenas uma sugestão: o blog, além de falar sobre cultura, política, literatura e etc, poderia falar também sobre os muitos problemas sociais brasileiros e PRINCIPALMENTE sugerir meios para q cada um pudesse ajudar a resolvê-los, mostrando algumas das muitas instituições e comunidades q tanto necessitam de ajuda aqui em natal mesmo, afim de q essa classe média e alta q são justamente seus alunos e leitores possam ter uma noção maior sobre as pessoas q vivem em situação de plena miserabilidade e q precisam ser ajudadas por todos nós, já q o Estado pouco faz por eles.


p.s: texto perfeito o de adailton, como sempre!

Adailton Figueiredo disse...

Elaine Ramos,

Obrigado pela sugestão e pelo elogio ao meu texto. Vou conversar com os demais colegas do blog sobre sua sugestão.
Sucesso.

RenatoSuassuna disse...

É lamentável que, numa terra onde a diversidade e qualidade musical é imensa, o brilho de grandes artistas locais e nacionais seja ofuscado por um troço parecido com música que alguns atrevem-se a chamar de forró. Pelo amor de Deus, forró é Luiz Gonzaga, forró é Dominguinhos. Coisa de velho? Tente ouvir Falamansa, então!

Tive a oportunidade de assistir a um show de Xangai no TAM, e fiquei encantado com a criatividade de suas letras. Recomendo a todos que dêem essa chance a si mesmos.

Sanidades Insanas disse...

Eu, ao já exposto pelos colegas, acato o elogio do anônimo e a sugestão da Elaine.
Ponho-me ainda a compartilhar de suas idéias culturais, neste caso, a música em pauta!
Sou jovem e sonhadora e creio que conseguirei em minha carreira profissional desenvolver o projeto que tenho em mente hoje, se isto conseguir, sei- não sendo pretensiosa- que o querido professor-escritor ajudar-me-a nesta saga. Guardarás ao meu pedido teu legado, tuas obras, das quais conheço poucas, mas que serão eternizadas pelos olhos dos homens ao serem difundidas ao mundo com tanto fervor.
Não apenas o senhor, mas todos os que eu conhecer e também aqueles que me conhecerem apenas, isto basta; estarão ao alcance da intrepidez que causa a sede pelo saber.

;p

Anônimo disse...

Amem...
deveriamos ter mais pessoas como vc em nossa cidade, que lutam pela cultura e ainda, uma forma de lazer.
Somos tao carentes de projetos de entretenimento e o pouco que temos querem acabar, nao podemos permitir tal façanha...
lutemos pelo que é nosso e as vezes de niguem(pois esquecem-se que existe)...VIVA A CULTURA POTIGUAR!!!
abraços...

Adailton Figueiredo disse...

Agathae Pinheiro,

Viva a cultura potiguar, sim!