terça-feira, 16 de setembro de 2008

Liberdade, para quê?


Pesquisando-se em jornais de 13 de maio de 1889, 1890 e 1891, descobre-se como as autoridades, nos anos seguintes à aprovação da Lei que aboliu a escravidão, sempre vinham realizando comemorações referentes a essa data. Nesses jornais, não se registra a presença, o nome ou algum discurso de africanos ou de seus descendentes. Esse fato, que ao leitor desatento pode passar despercebido, vai apenas se tornar mais um elemento do quadro histórico onde o africano, apesar de livre, continuou a sofrer discriminação social, política, cultural e econômica. Na data da celebração de sua liberdade, os jornais e a sociedade comemoraram em teatros e recintos fechados, onde aquele por quem se comemora estava ausente.

A ausência dos africanos do noticiário dessas comemorações é indicativo de que eles, apesar de livres, não conquistaram, de fato, a condição de igualdade que na Lei estava registrada.

O movimento abolicionista, ao obter o apoio de amplos setores da sociedade que até então era escravocrata, impediu ou mesmo dificultou uma luta pela libertação que incluísse em seu programa, questões referentes a trabalho, educação e saúde de toda essa enorme parcela da população constituída por africanos, descendentes destes e mestiços. O movimento abolicionista, na verdade, restringiu-se a extinguir o regime escravista, não colocando em discussão as formas de vida do ex-escravo.

Este fato nos possibilita reconhecer que a abolição precisava vir acompanhada de um amplo programa político. A conquista da condição de homem livre deveria estar associada a outras condições de trabalho e de vida.

Ao ex-escravo, após as comemorações do 13 de maio de 1888, só restou voltar a trabalhar para o ex-senhor, recebendo pequenos salários (pois eram deste a terra, a casa e os instrumentos de trabalho), ou se estabelecer na periferia das cidades, realizando pequenos serviços ou trabalhos mais regulares.

(Adaptado de MONTENEGRO, Antônio Torres. Reinventando a liberdade : a abolição da escravatura no Brasil. São Paulo: Atual, 1989. p.15.)

3 comentários:

Anônimo disse...

Liberdade de faixada!
A elite comemorava a abolição de negros ausentes... mas que despropósito!

João Carlos, foi assim em todo país que aboliu a escravidão?

João Carlos Rocha disse...

Em praticamente todos. Talvez a única exceção tenha sido o Haiti e, mesmo assim, por pouquíssimo tempo. O movimento de independência haitiana aboliu a escravatura - pois originou-se de uma revolta de escravos. Com a formação do Estado haitiano, surgiram novas formas de dominação que acentuaram a pobreza na região.

Até mesmo os EUA - o país de maior tradição democrática das Américas - continuaram, após a escravidão, a cercear as liberdades dos negros.

Anônimo disse...

Ainda Escravos...

Da senzala à favela.
Da chibatada aos cassetetes.
Das correntes às algemas.
Dos negreiros aos camburões.
De escravos a explorados.
Dos porães às pensões.

Nos deram alforria
mas não a liberdade.
Disseram que somos livres
(livres sem dignidade).
Soltaram as correntes
e nos prenderam à miséria,
falando em igualdade.