Desculpe se você é eleitor do PSTU, mas eu preciso te dizer: quem salvou o capitalismo foi Karl Marx. Pois é. Na verdade tudo começou quando Adam Smith (Um escocês narigudo que no século XVIII andou escrevendo uns livros sobre economia) desenvolveu a desvairada idéia de que se os governos deixassem o mercado livre, com o mínimo de regulamentação possível, as crises cíclicas que assustavam os capitalistas, tenderiam a ser menos intensas e com uma distância maior de tempo entre elas.
Ora, qualquer surfista sabe que quando a distância entre a crista da onda e sua base diminui e o intervalo entre uma onda e outra aumenta, o mar fica ruim. A onda vira marola e é melhor botar a prancha debaixo do braço e voltar para casa. Na verdade era isso que o Adam Smith estava tentando fazer. Convencer a humanidade que o mercado era racional e que, com o passar do tempo, deixando esse mercado solto, livre, leve e bem à vontade, as coisas iriam se equilibrar e o mundo seria uma maravilha, com os preços caindo e os salários aumentando.
Marx percebeu justamente que essa idéia iria levar a um colapso do sistema produtivo e ficou bastante animado com as perspectivas a ponto de produzir um dos elogios mais significativos da classe burguesa no seu famoso Manifesto Comunista. Marx sacou que a idéia de Smith era uma bobagem e que iria levar o capitalismo a bancarrota em uma crise sem precedentes. Um imenso tsunami financeiro que levaria a economia dos países e permitira a tão sonhada revolução operária. Por isso Marx resolveu se antecipar e escrever logo o necrológio da classe burguesa (o Manifesto Comunista). O problema é que Marx fez o elogio fúnebre antes do moribundo esticar as pernas. E pior, ele mostrou os mecanismos econômicos, políticos e filosóficos que iriam levar o sistema burguês ao falecimento.
Então, em 1929, quando o capitalismo parecia que ia mesmo pro caixão como Marx havia previsto (em seus momentos de maior comoção e fúria divina, quase como os bons e velhos profetas judeus anunciando o Messiah na porta do Santo dos Santos em Jerusalém), Keynes apareceu na jogada e demonstrou que a idéia de Smith era realmente uma bobagem e que se o mercado ficasse solto, livre e leve, as crises cíclicas do capitalismo iriam aumentar de intensidade e o intervalo de tempo entre elas iria diminuir. Justamente o inverso do cálculo do Smith.
Pronto. Agora era a hora de tomar medidas para evitar que o tsunami levasse embora a economia de mercado. Daí apareceu esse tal de Estado, para pagar a conta do prejuízo da farra financeira, justo com o dinheiro do contribuinte. A lógica é simples: quando é para lucrar a gente privatiza, quando é para pagar a conta, a gente usa o dinheiro dos impostos e estatiza. Nem bem um século se passou e o cadáver de Adam Smith, retirado de seu caixão escocês pelos boyzinhos de Milton Friedman volta a fazer seu estrago. Dos quatro maiores bancos norte americanos, dois já pediram penico e parece que os outros não estão muito longe disso. O FED faz os cálculos e percebe que talvez não haja dinheiro no caixa do Estado para pagar todas as contas e segurar o rombo do mercado livre. De Janeiro até agora os norte americanos já perderam mais de 600.000 postos de trabalho. O mercado imobiliário dissolveu-se e quem tinha dinheiro em bolsa está lotando os consultórios psiquiátricos e as igrejas pentecostais para pedir auxílio ao espírito santo.
Mas, calma, calma, não se anime, o capitalismo não vai acabar, afinal Keynes, depois de ter lido Marx, já mostrou qual é o caminho para reanimar o paciente em estado comatoso e a turma sabe como fazer quando a bolha estoura. Chama o Estado que ele resolve. Tá vendo! Tudo culpa do Karl Marx, esse porco capitalista!
Pablo Capistrano.
Um comentário:
Nunca havia pensado por esse angulo. Mas vc está certo mesmo! Como bom entendedor do capitalismo Marx deu todas as "dicas" para essa mesma teoria econômica que criticava.
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