domingo, 24 de agosto de 2008

"Um Guia da cidade do natal" de 1958".


Na reestruturação da biblioteca da Academia Norte-rio-grandense de Letras, encontrou-se verdadeiras relíquias.
Em 1958, o Brasil vivia numa efervescência geral, foi o ano que o país conquistou a 1ª° Copa do Mundo e descobriu os talentos de Pelé, Garrincha e Didi. Onde as primeiras notas da Bossa Nova conquistavam e embalavam os brasileiros, o presidente era o sonhador e idealizador Jucelino Kubichek e o governador Dinarte Mariz criava por aqui, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Quando sob a organização de J. A. Negromonte e Etelvino Vera Cruz lançaram o "Guia da Cidade de Natal", a pouco redescoberto pelo presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, que diz, "esse registro desperta, provoca e nos faz pensar do que foi Natal há 50 anos".
Um dos legados que Diógenes da Cunha Lima tem decorrente da convivência com seu mestre, Câmara Cascudo, cuja amizade e os tranqüilos, divertidos e edificantes encontros de fim de tarde, no casarão da Junqueira Ayres, além de despertar o dom da escrita e a sensibilidade pela poesia, deixou frutos, um deles o de reconhecer a importância de relíquias que podem reconstruir ou simplesmente não deixar cair num canto qualquer sob a poeira do esquecimento, a memória da história do povo potiguar. "Muitas vezes Cascudo me mandava ir a Feira do Alecrim conferir uma palavra. Ele era um pesquisador sério e rigoroso", lembra o escritor.

"Agora, imagine que em 1958, Natal tinha 163 mil habitantes, isto é, menos de 1/4 da população atual. A revista é interessantíssima, pela ingenuidade e o romantismo que eram características marcantes daquela época. Uma das grandes novidades naquele momento na cidade que o Guia anunciava era o barco a vela que atravessava as águas do rio Potengi com destino a praia da Redinha", aponta Cunha Lima.

O "Guia da Cidade do Natal" é uma revista de serviços completa, ali era possível encontrar toda a programação das chegadas e saídas dos Trens, como também, das três linhas aéreas que pousavam em terras potiguares: a argentina Aereo Lineas, Pan Air e a alemã KLM.

"Um dos serviços oferecido e que estava no auge era o de datilografia. O time de futebol ABC tinha a sua sede na Avenida Afonso Pena e como lazer para seus associados e familiares passava filmes como o de Tarzan. Os cinemas da época, eram o Rex, São Luiz, São Pedro e Nordeste, nenhum sobreviveu até os dias de hoje. O Granada bar, do basco Nemésio Morquecho era o único apontado como especializado por esta edição", são alguns das memórias que podem ser encontradas no Guia cita o escritor.Diógenes da Cunha Lima, lembra ainda um ponto alto do livro, "o anúncio da Universidade Popular do Rio Grande do Norte, cujo endereço era Junqueira Ayres, 377, isso mesmo, justamente a universidade era localizada na casa de Câmara Cascudo, foi ele quem inventou isso, e quer saber, aquela "universidade" realmente funcionava, todo dia tinha as famosas conferências, a cada livro emprestado para seus discípulos tinham que ser devolvidos com um resumo opinativo, sem contar que era aberta, quem tinha a fome pelo saber era só chegar".

Quem viveu naquele ano, com certeza lembra de nomes, como: "Armarinho Rosa de Saron"; "Duas Américas"; "Confeitaria CISNE (que vendia a cachaça Formosa Syria"; a Construtora "Joaquim Victor"; "Loja Scope"; "Casa Rubi"; "Importadora de automóveis Omar Medeiros", "Banho à Vapor - Emídio Coelho"; "Aguardente Sentinela", "Livraria Ismael Pereira", "Gelo Pinguim" e, quem não se lembra do guaraná Fratelli Vita e da Dore (essa ainda continua sendo fabricada).

E, os profissionais sempre atentos ao modernismo e cientes da necessidade do marketing, já anunciavam seus serviços, como os dentistas: Jair Navarro, Jessé Cavalcanti, Max Azevedo, Ney Gurgel, entre outros. Os advogados: Djalma Marinho, Dante de Meldina, Hélio Galvão, Paulo Viveiros, Romildo Gurgel, Tulio Fernandes, Cortês Pereira, Ticiano Duarte, Roberto Furtado e Moacyr de Góis. Os anúncios dos médicos tinham particularidades na hora da descrição das especialidades: Abelardo Calafange (especialista em crianças); Bandeira de Melo (especialista em Ano-retais); Newton Azevedo (especialista em doenças de senhoras); Pedro Lucena (especialista em pele e sífilis), entre outros.

O guia é um registro completo do que a cidade oferecia para os seus 163 mil habitantes, de igrejas e congregações (Irmãs filhas de Santana, Irmãs Franciscanas e hospitaleiras, etc.), lojas, serviços, com poucas fotos, duas têm destaque a da Maternidade Januário Cicco e da Escola Doméstica (a diretora atual Noilde Ramalho, já ocupava esse cargo no ano de 1958), outra personalidade que se fez presente no Guia foi o crônista social, Paulo Macedo, que num anúncio de página inteira e a última da revista, dizia: "Senhores Leitores! Mantenham-se bem informados sobre os acontecimentos sociais da cidade, ouvindo o cronista Paulo Macedo através do Programa "Um giro em Sociedade", levando ao ar diariamente, às 12,15 horas, pelas ondas do Rádio Nordeste! Leiam, também as crônicas, sob o título "Paulo Macedo explica em Sociedade".

Num período em que nem se pensava em coisas, como: "Lava-louças" (1977), "Fita-cassete" (1963); "Internet" (1969); "CD" (1982); "Secretária Eletrônica" (1984), "Movimento Hippie" (1960); "DVD" (1999); "Furadeira elétrica" (1972), entre outros. Onde o que se entendia de última tecnologia em telefonia era uns aparelhos enormes e pesados, com apenas quatro dígitos e só os mais ricos tinham, os que freqüentavam a Avenida Rio Branco ( a rua mais chique da cidade). "O Guia da Cidade do Natal, é uma obra informativa de interesse dos turistas, viajantes, comerciantes, industriais, profissionais e do povo em geral", é assim que logo na primeira página ele se apresenta. Para o acadêmico Diógenes da Cunha Lima, "essa relíquia pode ser um primeiro passo para um estudo comparativo social, econômico e cultural mais aprofundado sobre as mudanças da sociedade natalense".

Repórter: Daniela Pacheco
http://www.jornaldehoje.com.br/novo/navegacao/ver_noticias.php?id_ce=6591 23/08/2008, 22h38min,


2 comentários:

Anônimo disse...

Prof. Adailton, onde fica a biblioteca da Academia Norte-rio-grandense de Letras? Ela é disponível para qualquer pessoa?

Ainda:

Na subjetiva de História é previsto que haja uma questão sobre o nosso estado. E na de Geografia? Costuma cair Geografia do RN? Teremos aulas de Geografia do RN lá no CIS?

Até!

Adailton Figueiredo. disse...

Olá,

O endereço é: Rua Mipibu, 443 petropolis. Fone 3221 1143