Em 1988 o historiador inglês Christopher Hill esteve no Brasil para o lançamento de seu livro O Eleito de Deus, onde analisa a vida de Oliver Cromwell. Na ocasião, concedeu uma entrevista ao historiador brasileiro Nicolau Sevcenko, publicada no Jornal Folha de S. Paulo, tecendo considerações sobre a Revolução Inglesa, tema constante em sua produção historiográfica. O trecho reproduzido nos permite compreender porque Hill considera a Revolução Inglesa um evento capital da história de todo mundo moderno. Ao relacionar os efeitos da Revolução, o autor nos chama a atenção para o caráter burguês da mesma.
Folha: Nenhum outro historiador poderia explicar tão clara ou amplamente quanto o senhor, por que a Revolução Inglesa é um evento capital não só da história inglesa, mas de todo o mundo moderno até os nossos dias. O senhor poderia nos resumir essa sua conclusão?
Hill: Se você observar a Inglaterra no século XVI, verá que é uma potência de segunda classe, levando um embaixador inglês em
Houve ainda uma revolução agrícola com a abolição dos direitos feudais remanescentes sobre a posse das terras, transformando a terra numa mera mercadoria livremente comercializável. O resultado foi que, se a Inglaterra no século XVII era importadora de cereais e padecia de fome e escassez, no fim desse século já era exportadora e não havia mais fome. Tudo isso, como é óbvio, convergiu para a irrupção da Revolução Industrial no final do século seguinte. Fato que foi corroborado, não se deve esquecer, pelo clima geral de liberdade de pensamento e de estímulo oficial às atividades de livros de investigação e pesquisa, que redundaram na revolução científica, pondo a Inglaterra à frente também nesse campo.
(Folha de S. Paulo, 10/8/1988, p. E-14.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário