quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Jogos Olímpicos são o maior reality show da TV mundial, diz historiador



A dois dias do início dos Jogos Olímpicos de Pequim, enquanto o mundo fala em paz e união mundial, o historiador norte-americano Alfred Senn se levanta com uma voz dissonante, e crítica do excesso de valorização da competição. “Dizer que as Olimpíadas são um momento de união global é um exagero. Os Jogos são o maior reality show da TV do mundo. É um negócio gigantesco, de bilhões de dólares”, disse, em entrevista ao G1, por telefone.

Professor emérito da Universidade de Wisconsin, Senn diz que as pessoas dão atenção de mais ao que considera uma simples, embora grande, competição esportiva. Segundo ele, este excesso de atenção acaba fazendo com que os Jogos sejam usados para a defesa de interesses políticos e a propaganda estatal.


“Não acho que os Jogos sejam um instrumento de pacificação do mundo. Muitos países usam os Jogos para seus interesses políticos. Os governos fazem propaganda em cima do desempenho dos atletas dos seus países. A própria contagem de medalhas tem uma organização política. A valorização dos esportes individuais, como a natação e a ginástica, foi política, e favoreceu quem investiu nisso”, disse.


Autor do livro “Poder, política e os Jogos Olímpicos”, Senn expôs o exemplo histórico de uso político das Olimpíadas, como a disputa entre EUA e União Soviética na Guerra Fria. “Esse foi o momento em que os Jogos mais foram usados para a propaganda política. Isso era muito claro na época da Guerra Fria, quando a União Soviética e os Estados Unidos disputavam medalhas como uma representação da qualidade dos seus sistemas político-economicos”, contou.
Segundo ele, este ano o foco estará na luta da China pela hegemonia do esporte. “Neste ano estão dando muita atenção à disputa do total de medalhas entre a China e os EUA. Isso tem uma grande relevância política. Não acho que os Estados Unidos estejam estruturados para este tipo de disputa atualmente. A China investiu em esportes individuais, que rendem mais medalhas no quadro geral, enquanto os Estados Unidos pareceram se preocupar menos com esta disputa.”

Boicote
Mais uma vez discordando do discurso comum, Senn critica a defesa do boicote aos jogos de Pequim por conta dos abusos aos direitos humanos no país. Segundo ele, a realização da Olimpíada em Pequim oferece uma enorme visibilidade global para questões que ficariam escondidas se não fosse pelos Jogos.


“O simples fato de as olimpíadas serem na China dá visibilidade global a uma série de questões que seriam ignoradas se os jogos fossem em outro país. O próprio Tibete ganhou uma chance de alcançar um público internacional por conta da atenção dada aos jogos de Pequim.”
Ele ressalta ainda a questão da força econômica e esportiva da China, que investiu pesado no projeto de sediar os jogos deste ano, e que não poderia ser ignorada pelo Comitê Olímpico Internacional. “Claro que é importante criticar os abusos de direitos humanos, mas é uma chance de cobrar avanço e dar visibilidade global a estes problemas.”


Daniel Buarque.
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias
06.08.2008, 13h17min.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caros, sou jornalista, preciso de um historiador brasileiro em Olimpíadas para entrevista. Por favor, enviem dado para aluisgoncalves@uol.com.br ou liguem 21 78731968 André Gonçalves