quinta-feira, 3 de julho de 2008

Charles Darwin 150 anos depois...

Nesta semana comemora-se o aniversário de 150 anos da primeira exposição pública da Teoria da Evolução das Espécies, do inglês Charles Darwin. Quando lançada, a teoria provocou uma série de desconfortos nos saberes da época, principalmente o religioso, uma vez que não aceitava o mito de Adão e Eva como responsável pelo surgimento do homem na Terra.

Inaugurava-se um tempo novo, no qual o homem não precisava mais do sobrenatural para explicar o funcionamento das coisas e que soluções complexas e empíricas substituíam as explicações simples da vontade divina. Anunciava-se um período em que Deus estava morto, como pensava Nietzsche. Afirmava-se, acima de tudo, uma nova ciência que – mesmo ainda sem conhecer a genética de Mendel – criava o maravilhoso mundo da seleção natural das espécies, lembrando ao homem que ele estava tão sujeito às transformações da natureza quanto um micróbio. Assim, deixávamos de ser criaturas eleitas, feitas perfeitamente à imagem e semelhança de Deus, para nos tornarmos animais que lutavam por sua preservação no mundo.

Obviamente suas teorias foram repensadas à luz dos novos conhecimentos e das modernas tecnologias que os séculos XX e XXI permitiram aos pesquisadores, o que solucionou os usos equivocados do pensamento darwiniano. No entanto, idéias como o darwinismo social deixaram rastros de preconceito que até hoje podem ser percebidos, embora não tenham mais seguidores pelo planeta.

Quando a teoria da evolução chegou ao Brasil, no final do século XIX, ela foi usada para justificar o racismo contra os negros e mestiços. Sob a égide das idéias de Herbert Spencer e de Félix Von Luschan, os intelectuais brasileiros justificaram a dominação da elite – predominantemente branca – sobre os negros, índios e mestiços a partir da idéia de que haveria uma diferenciação entre as raças e que, cientificamente, a branca seria predominante à negra e suas derivações de cores.


A escala cromática de Félix Von Luschan diferenciava as raças e sua "evolução".

Foi nesse período que a eugenia tornou-se uma “ciência” muito apreciada no Brasil, pois permitia uma “higiene” da raça, purificando a nação da “morbidez” trazida pelos africanos e nativos. A imigração de europeus, inclusive, além de ser fruto da necessidade de braços para a lavoura cafeeira, também fazia parte de uma estratégia governamental para “branquear” o Brasil. Muitos estudiosos acreditavam que o País só se tornaria uma potência mundial quando a população fosse totalmente branca.

O darwinismo social começou a ser desacreditado em terras brasileiras quando sociólogos como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda interpretaram a identidade nacional a partir do fenômeno da miscigenação. Ao invés de ser o pior que poderia ter acontecido ao povo brasileiro, para esses autores, ser mestiço o havia dotado de características importantes. Mesmo assim, os resquícios do “preconceito científico” permanecem no Brasil atual, como podemos testemunhar cotidianamente. É lamentável ter de responder num questionário a qual raça pertencemos. Branco? Negro? Amarelo? Somos brasileiros e todos pertencentes a apenas uma raça, a humana.

Embora tenha sido usada erroneamente para justificar dominações político-sociais, a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin sobrevoa tudo isso e continua a ser a mais revolucionária idéia científica da humanidade. Fico feliz em viver num mundo que a conhece.

(João Carlos Rocha)

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito show! Qual é a fonte?,

Anônimo disse...

O conhecimento perde a essência quando se torda justificativa para o poder!
"Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada!"
(Humberto Gessinger)

Anônimo disse...

torna*

Anônimo disse...

Fantástico!