domingo, 13 de julho de 2008

Carta escrita em 2070

"Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo pouca água. Creio que me resta pouco tempo de vida. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo-me de quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de banho de chuveiro de cerca de uma hora. Agora, usamos toalhas umedecidas em azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora, raspamos a cabeça para a manter limpa sem água. Antigamente, meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira, imagine! Hoje, os meninos não acreditam que a água erautilizada dessa forma. Recordo-me que havia muitos anúncios que diziam CUIDE BEM DA ÁGUA, só que ninguém ligava; pensávamos que a água jamais poderia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Aquantidade de água indicada como ideal para se beber era de oito copos diários por pessoa adulta. Hoje, só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta imensamente a quantidade de lixo. Tivemos de voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passadoporque as redes de esgoto não são utilizadas por falta de água. A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas causadas pelos raios ultravioletas que não são filtrados pela capa de ozônio que desapareceu. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia . As infecções gastrintestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte. A industria está paralisada e o desempregoé dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam os funcionários com água potável no lugar do salário. Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pelo ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40. Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de arvores o que diminuiu a capacidade mental das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como conseqüência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações. O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3 por dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é retirado das "zonas ventiladas", dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar. A qualidade do ar não é boa, mas pode-se respirar: a idade média é de 35 anos. Em alguns países ficaram manchas de vegetação nas margens de alguns rios que são fortemente vigiados pelo exercito. A água tornou-se um tesouro mais cobiçado do que o ouro ou os diamantes. Aqui, em troca, não há arvores porque quase nunca chove e, quando isso ocorre, a precipitação é de chuva ácida. As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atômicas e da industria contaminadora do século XX. Na época, advertia-se sobre a necessidade de se cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso. Quando minha filha pede que lhe fale sobre minha juventude,descrevo como os bosques eram bonitos; digo-lhe da chuva, das flores, de como era agradável tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse e o quanto saudável era a nossa gente. Ela pergunta-me: Papai! Por que a água acabou? Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de me sentir culpado porque pertenço à geração que acabou destruindo o meio ambiente ou simplesmente não levou em conta tantos avisos. Agora, nossos filhos pagam um preço alto e, sinceramente, creio que a vida na terra não será possível dentro depouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto enquanto ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta terra!"
Documento extraído da revista biográfica
"Crônicas de los Tiempos" de Abril de 2006.

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