sexta-feira, 25 de julho de 2008

Democracia racial.

No Brasil, a história de seus conflitos e problemas envolveu bem mais do que a formação de classes sociais distintas por sua condição material. Nas origens da sociedade colonial, o nosso país ficou marcado pela questão do racismo e, especificamente, pela exclusão dos negros. Mais que uma simples herança de nosso passado essa problemática racial toca o nosso dia-a-dia de diferentes formas.
Em nossa cultura poderíamos enumerar o vasto número de piadas e termos que mostram como a distinção racial é algo corrente em nosso cotidiano. Quando alguém auto-define que sua pele é negra, muitos se sentem deslocados. Parece ter sido dito algum tipo de termo extremista. Talvez, chegamos a pensar que alguém só é negro quando tem pele “muito escura”. Com certeza, esse tipo de estranhamento e pensamento não é misteriosamente inexplicável. O desconforto, na verdade, denuncia nossa indefinição mediante a idéia da diversidade racial.
É bem verdade que o conceito de raça em si é inconsistente, já que do ponto de vista científico nenhum indivíduo da mesma espécie possui características biológicas (ou psicológicas) singulares. Porém, o saber racional nem sempre controla nossos valores e práticas culturais. A fenotipia do indivíduo acaba formando uma série de distinções que surgem no movimento de experiências históricas que se configuraram ao longo dos anos. Seja no Brasil ou em qualquer sociedade, os valores da nossa cultura não reproduzem integralmente as idéias da nossa ciência.
Dessa maneira, é no passado onde podemos levantar as questões sobre como o brasileiro lida com a questão racial. A escravidão africana instituída em solo brasileiro, mesmo sendo justificada por preceitos de ordem religiosa, perpetuou uma idéia corrente onde as tarefas braçais e subalternas são de responsabilidade dos negros. O branco, europeu e civilizado, tinha como papel, no ambiente colonial, liderar e conduzir as ações a serem desenvolvidas. Em outras palavras, uns (brancos) nasceram para o mando, e outros (negros) para a obediência.
No entanto, também devemos levar em consideração que o nosso racismo veio acompanhado de seu contraditório: a miscigenação. Colocada por uns como uma estratégia de ocupação, a miscigenação questiona se realmente somos ou não pertencentes a uma cultura racista. Para outros, o mestiço definitivamente comprova que o enlace sexual entre os diferentes atesta que nosso país não é racista. Surge então o mito da chamada democracia racial.
Sistematizado na obra “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, o conceito de democracia racial coloca a escravidão para fora da simples ótica da dominação. A condição do escravo, nessa obra, é historicamente articulada com relatos e dados onde os escravos vivem situações diferentes do trabalho compulsório nas casas e lavouras. De fato, muitos escravos viveram situações em que desfrutavam de certo conforto material ou ocupavam posições de confiança e prestígio na hierarquia da sociedade colonial. Os próprios documentos utilizados na obra de Freyre apontam essa tendência.

Ultimamente, os sistemas de cotas e a criação de um ministério voltado para essa única questão demonstram o tamanho do nosso problema. Ainda aceitamos distinguir o negro do moreno, em uma aquarela de tons onde o último ocupa uma situação melhor que a do primeiro. Desta maneira, criamos a estranha situação onde “todos os outros podem ser racistas, menos eu... é claro!”. Isso nos indica que o alcance da democracia é um assunto tão difícil e complexo como a nossa relação com o negro no Brasil.


Por Rainer SousaGraduado em HistóriaEquipe Brasil Escola

2 comentários:

Hugo Barros disse...

Primeiramente, parab�ns pelo blog! � o professor usando a linguagem de n�s alunos para conseguir a educa�o! O site j� faz parte de minha p�gina inicial, e sempre que puder vou est� dando minha opini�o sobre o assunto.

Em rela�o ao preconceito racial � praticamente imposs�vel ministra-lo numa cultura, n�o s� brasileira, em que imagem vai ter um sentindo social e est� intr�nseco a subservi�ncia negra dos nossos ancestrais escravos. Pode-se ser amenizado sim, com a cota para negros nas universidades, t�o criticada por muitos brancos e outras ra�as n�o-negras (se � que existe ra�a). � uma maneira r�pida e eficaz de trazer o negro para o mercado, mesmo que injusto. N�o � quest�o de ele poder ser menos ou mais capaz, trate-se de um �remendo� necess�rio para a cura uma chaga hist�rica: Achar que o negro n�o � gente.
O que se deve ser abolido � a quest�o da nomenclatura do mulato, no qual o nome �negro� juridicamente passa a ser discriminat�rio. Ao inv�s disso, deve-se usar o �afrodescendente�, tendo a mim, e acredito que qualquer pessoa, o mesmo peso. Ser� que n�o consigo continuar sendo preconceituoso usando o termo �afrodescendente�? O uso de qualquer nome n�o ajudar� a inclus�o negra-social. A cota sim.


Obs:
Posso est� errado, mas acredito que o �onde� s� pode ser usado quando o sujeito se refere o algo f�sico, diferente dos trechos:

�A condi�o do escravo, nessa obra, � historicamente articulada com relatos e dados onde os escravos vivem situa�es diferentes do trabalho compuls�rio nas casas e lavouras.

Desta maneira, criamos a estranha situa�o onde �todos os outros podem ser racistas, menos eu... � claro!�.

Obrigado.

Anônimo disse...

O "aonde" é utilizado acompanhado de verbos que indicam movimento.Enquanto isso, o "onde" é utilizado para verbos que não indicam movimento.
Ex.:
1. Aonde você vai?
2.onde está meu celular?