sábado, 5 de julho de 2008

Relaxando no fim de semana (Parte 01)


Nesta coluna semanal, faremos sugestões de filmes, livros, músicas e espetáculos artísticos para que vocês possam relaxar um pouco da grande maratona que é o vestibular.

Nossa primeira sugestão é o filme V de Vingança (V for Vendetta, EUA, 2006), dirigido pelos irmãos Wachowski (criadores da trilogia Matrix) e baseada nos quadrinhos de Alan Moore. Um excelente filme para quem gosta de ação e, ao mesmo tempo, pensar sobre o que o rodeia. A história começa numa Inglaterra de meados do século XXI, marcada por um regime totalitário conservador e religioso que ascendeu ao poder após uma série de catástrofes, guerras e pestes. Tomadas pelo medo, os ingleses aceitam a dominação e, silenciosamente, tornam-se seres submissos ao poder do alto chanceler Adam Sutler, até surgir um misterioso homem, usando uma máscara como um personagem teatral, que ataca o governo e destrói seus símbolos. V (Hugo Weaving), seu codinome, torna-se o “terrorista” mais perigoso da Inglaterra e todos aqueles que apoiassem suas idéias eram considerados traidores, como Evey Hammond, personagem interpretada por Natalie Portman.

Não irei contar a história inteira, mas lembrarei que, ao contrário do que alguns críticos disseram – principalmente os da mídia conservadora brasileira – o filme não é uma apologia ao terrorismo. As idéias do personagem principal assemelham-se às do Iluminismo, uma vez que convoca o povo para retirar do poder um governo que não o faz feliz. Num dos momentos altos da película, V diz que “o povo não deveria temer seu governo, mas o governo é que deveria temer seu povo”, uma clara alusão aos princípios de iluministas como John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Se isso for apologia ao terror, a tomada da Bastilha, então, pode ser considerada o primeiro ato de terrorismo do mundo contemporâneo.

Além disso, ao descrever o Estado policial que se forma na Inglaterra, o filme lembra inúmeras passagens de pensadores absolutistas, como Maquiavel e seu indefectível “os fins justificam os meios”, bem como as armas utilizadas pelas ditaduras, tais como a manipulação das informações e da mídia, tortura e exterminação das pessoas “diferentes” da maioria da população, toques de recolher e a criação de uma atmosfera de medo para justificar o domínio: “quero que todos se lembrem por que precisam de nós”, diria o chanceler Sutler no momento da crise do seu governo.

Afinal, quantas vezes na história poderíamos descrever situações semelhantes? É só lembrarmos de Getúlio Vargas com o seu fajuto Plano Cohen, que enganou uma amedrontada população brasileira, utilizando-se da idéia de que os comunistas ascenderiam ao poder, matariam personalidades e tomariam as posses das pessoas. Aproveitando-se da situação, deu um golpe de Estado e evitou as eleições de 1938. E o AI-5 na ditadura militar? E as manipulações midiáticas que fizeram de Collor, um político sem expressão, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o governo Sarney?

Apesar de se passar numa Inglaterra futurista e do personagem principal ser um herói fantasioso, o filme nos traz uma mensagem interessante sobre política e poder, pois nunca devemos esquecer que o poder emana do povo, de nós.

Agora, bote a pipoca no microondas e bom proveito!

Assista ao trailer!


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