terça-feira, 22 de julho de 2008

Falou e disse (parte 02)


Um dos grandes pensadores do século XX foi Antonio Gramsci, renovador do pensamento marxista e criador de análises interessantes, como a que versa sobre a participação dos intelectuais na política. Na esteira dos textos publicados por Adailton em nosso blog, pensei em colocar esse pequeno trecho do filósofo italiano, no qual se discute a indiferença política:


Odeio os indiferentes. Como Federico Hebbel, acredito que “viver quer dizer tomar partido”. Não podem existir os apenas homens, os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso, odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bola de chumbo para o inovador, é a matéria inerte na qual freqüentemente se afogam os entusiasmos mais esplendorosos.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; é aquilo com o que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mais bem construídos. É a matéria bruta que se rebela contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se deve tanto à iniciativa dos poucos que atuam, quanto à indiferença de muitos. O que acontece não acontece tanto porque alguns o queiram, mas porque a massa dos homens abdica de sua vontade, deixa fazer, deixa enrolarem os nós que, depois só a espada poderá cortar; deixa promulgar leis que, depois, só a revolta fará anular; deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. Os fatos amadurecem na sombra porque mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões restritas, os objetivos imediatos, as ambições e paixões pessoas de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens ignora, porque não se preocupa.


Quem melhor do que Gramsci para falar de indiferença política? Afinal, foi ele um dos maiores críticos do regime de Mussolini, tendo sido preso e morto durante sua ditadura. Foi, acima de tudo, um grande ativo político, ao contrário da maioria silenciosa que prefere o conforto de seus cotidianos a lutar por uma situação melhor.

Durante um período tão marcado pela presença pública da política, devemos lembrar que ser “apolítico” significa aceitar e justificar o modelo vigente, com seus favorecimentos e suas desonestidades. Transformemo-nos em cidadãos ativos que batalham pela criação de um espaço do bem-comum.

De fato, Gramsci “falou e disse”.

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