segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Londres foi cúmplice em tortura, diz ex-preso de Guantánamo


Um ex-morador britânico que alega ter sido brutalmente torturado em uma instalação da CIA em Marracos foi libertado nesta segunda-feira, 23, após cerca de cinco anos anos na prisão americana de Guantánamo, na primeira soltura do governo do presidente Barack Obama. Em suas primeiras declarações, o etíope Binyam Mohamed (foto) acusou o governo americano por ter orquestrado sua tortura e disse que agentes britânicos foram cúmplices.

"Devo dizer, com tristeza, que muitos foram cúmplices de meus horrores durante os últimos anos. Para mim, o pior momento foi quando me dei conta em Marrocos que as pessoas que me torturavam recebiam perguntas e material da inteligência britânica", afirmou Mohamed em nota.

O etíope destacou que não está em condições "físicas e mentais" para conversar com a imprensa assim que chegar a Londres, para onde viaja. "Tive uma experiência que nunca imaginei, nem em meus sonhos mais obscuros", acrescentou. "É difícil crer que fui sequestrado, levado para outro país, tudo de forma medieval e orquestrado pelo governo dos Estados Unidos."

Quando desembarcar na capital britânica, Mohamed será recebido por médicos, advogados, familiares e amigos. A decisão do governo americano de libertá-lo segue-se a uma solicitação formal do Reino Unido aos EUA feita em agosto de 2007, pedindo para que os cinco moradores britânicos remanescentes na prisão em Cuba fossem libertados.

Mohamed, de 30 anos, foi preso no Paquistão em abril de 2002 e havia sido levado para Guantánamo em 2004. Ele foi acusado de treinar em campos da Al-Qaeda no Afeganistão e de planejar a explosão de uma bomba radioativa nos EUA, mas nenhuma prova contra ele encontrada e o etíope nunca foi acusado formalmente.

Os EUA negam que ele tenha sido submetido a "rendição extraordinária" e o Marrocos sempre negou que o tenha detido no país. O caso de Mohamed recebeu ampla cobertura no Reino Unido. Neste mês, a Alta Corte britânica decidiu que a evidência da tortura a que foi submetido permaneça em sigilo, depois de os EUA afirmarem que a sua divulgação poderia ameaçar a cooperação no setor de inteligência entre Washington e Londres.

Fonte: http://www.tribunadonorte.com.br/, 23.02.2009, as 12h54min.

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