sábado, 31 de janeiro de 2009

Folclore: ciência e arte do povo.


Não bastam apenas as instituições de ensino aproveitarem o dia do folclore e fazer aquele corre-corre para tentar justificar o que quase não conhecem, porque a professores e estudantes não é dada oportunidade de estudar e conhecer a alma do seu país.

Não há nas propostas curriculares de nosso Estado, o que é lamentável, o cumprimento à legislação, "O Folclore nas Práticas Pedagógicas". Tentativas ocorreram por parte da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, contudo ainda não foi possível implantá-lo na terra de Luis da Câmara Cascudo (foto).

Nossa preocupação é oportuníssima, no momento em que a alma cultural brasileira está sendo atingida pelo fenômeno da globalização. Um instrumento felino, traiçoeiro que chega afogando, aplacando nossa inteligência, nossa história, nossa tradição. No país da maior reserva folclórica do mundo, com uma diversidade cultural que deixam perplexos estudiosos de várias partes do planeta, estamos sendo desrespeitados, chegando ao limite de um processo de completa alienação cultural, numa brutal inversão de valores. Mistura-se tudo em nome de uma modernidade recheada de equívocos confundindo cultura com glamour, o que para esses equivocados parece ser a mesma coisa.

Na segunda metade do século XIX os saberes do povo, guardados, preservados, transmitidos de geração a geração foram incorporados a uma palavra, Folk-lore, ciência do povo, estudo dos saberes populares, hoje com nova conceituação, porque a ciência da folclorística não é estática, nem peça de museu, transforma-se e modifica-se, preservando suas peculiaridades de conteúdo e forma em qualquer contexto social. O antônimo dessa palavra também é em inglês book-lore, a ciência dos livros, das enciclopédias, das cátedras, da formalidade científica, sem esquecer que folclore é o todo. Nada além do folclore, só Deus!

Partindo desse raciocínio um dos estudiosos do folclore francês, Paulo Sébillot colocou a ciência do folclore segundo as relações exteriores dos fatos, numa identificação direta com o Céu, a Terra, o Mar, os Rios, os Lagos, a Fauna, a Flora, o Povo e a História.

A linguagem, os gestos, os ritmos, o canto, as crenças religiosas, a literatura, a arte, o direito, a moral, são, até certo ponto, resultados da alma coletiva que se desenvolve sobre fatos antigos, tornando-os inconscientes, institucionais. São esses fatos que os estudiosos da ciência do povo chamam de mecanismo psicológico, em contraposição à lógica.

Entre o popular e o culto a diferença está na formação psíquica. O que chamamos povo, em folclore, corresponde ao mecanismo psicológico, com seu apreciável quinhão de associações e comportamentos instintivos, assim definiu Frederico Edelweiss. Nos cultos, prevalece o raciocino guiado pelo conhecimento científico.

Desta forma chegamos ao ponto conclusivo das duas ciências. Por mais que falemos em popular e erudito é quase impossível definir os limites exatos de ambos, porque o folclore está presente em todos os espaços e direcionamentos da vida humana. Desde os mais distantes recantos desse país às grandes metrópoles com suas construções, arquiteturas e decorações, objetos de usos de fabricação caseira, vestuários, adereços, caça, pesca, distintivos, marcas de propriedades, de ferração, agropecuária, alimentação, bebidas, músicas, canções, danças, os ofícios e as artes com suas técnicas, hábitos, costumes, cerimônias, rituais, magia, feitiços, medicina popular, literatura e linguagem popular.

Autor: Severino Vicente
E-mail: Historiador e folclorista.

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