quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sobre o caso Eloá

Ex-comandante do BOPE critica Sônia Abrão, Globo e Record

Em entrevista ao site Terra Magazine, o ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e sociólogo Rodrigo Pimentel afirmou que a cobertura feita pela Record, RedeTV! e Globo prejudicou as negociações com Lindemberg Fernandes Alves no sequestro ocorrido em Santo André (SP).

Co-autor do livro Elite da Tropa e roteirista do filme Tropa de Elite, ele avalia que a postura das emissoras foi “irreponsável e criminosa”.

Ao site, Pimentel fez uma crítica ainda mais incisiva à inteferência da apresentadora Sonia Abrão, da RedeTV!, nas negociações. Ela entrevistou Lindemberg ao vivo na quarta-feira (15/10).

“Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez. Eu lamento não ter falado isso na frente dela. Eu gostaria de ter falado isso para ela e para os telespectadores da Record e da RedeTV!. O que ela fez foi sem a menor avaliação. Tanto que, num primeiro momento, ele (o repórter Luiz Guerra) tentou enganar o Lindemberg, dizendo-se amigo da família. E depois ele tentou ser negociador, convencer ele a se entregar sem conhecer os argumentos técnicos usados para isso. O que o capitão Giovaninni (negociador da Polícia Militar) falava para o Lindemberg a todo momento é que, até aquele momento, o crime que ele havia praticado era muito pequeno. Esse é o argumento técnico, funciona quase sempre. ‘Olha meu amigo, até agora você não matou ninguém, até agora só colocou essas pessoas sob constrangimento, sua pena vai ser muito pequena…’. Isso funciona mesmo. E a Sonia Abrão não tem esse argumento, a Record também não.”

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DO BLOG - O que esse caso deveria inspirar nas pessoas é a seguinte pergunta: até onde a exploração de uma tragédia pela mídia pode aumentá-la?

Não precisa ser doutor em psicologia nem especialista em negociações do Bope para perceber que a mídia influenciou o caso de forma negativa. Semana passada, num desses acasos, liguei a televisão e assisti parte do programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga. Assim que a Globo começou a colocar em rede nacional aquelas janelas de um conjunto habitacional de Santo André, o seqüestrador fez sua primeira aparição do dia. Foi, inclusive, o momento em que a adolescente Nayara retornou ao apartamento. Como a energia do apartamento não havia sido cortada, a cobertura do caso dava a Lindemberg a oportunidade de ficar por dentro das ações da polícia, dos advogados e do ministério público. Além disso, com a programação das maiores emissoras do país sendo cortada por plantões jornalísticos, o jovem se sentia onipotente ao modificar, com suas atidudes, canais e programas.

Depois da tragédia, é muito fácil acusar a força policial de equívocos. Acusa-se a polícia de não ter atirado em Lindemberg. No entanto, imaginem se o GATE tivesse alvejado o jovem em rede nacional, quais teriam sido as reverberações da mídia? No mínimo diriam que os policiais foram irresponsáveis por ter matado alguém que não tinha antecedentes criminais e era bem relacionado. Já imaginaram uma morte às 5 horas da tarde, sendo transmitida pela rede Globo, com crianças do Brasil inteiro assistindo televisão?

O fato de vários jornalistas terem entrevistado Lindemberg demonstra uma corrida desenfreada pela informação, pelo furo de reportagem. Seqüestrador não é para ser entrevistado por jornalista, pois ele não foi treinado para negociações nem tem conhecimentos técnicos de psicologia ou legislação. Isso, certamente, atrapalhou muito as tentativas da polícia em consolidar um desfecho pacífico do caso.

Por várias vezes o coronel responsável pelo GATE repetiu que, num determinado momento, o seqüestrador havia aceitado liberar as duas jovens. No entanto, segundo o coronel, ele teria mudado de idéia após ter sido entrevistado por um programa de televisão.

Afinal, não acredito que a mídia estava interessada na solução do caso. Estavam unicamente interessados em audiência, aumento dos lucros e, num distante último lugar, levar informação. Ao invés de nos questionar sobre a atuação da polícia - que, como qualquer ação humana, cometeu erros - o que deveríamos criticar nisso tudo é a atuação irresponsável de parte da mídia brasileira, que exploraram e continuam a explorar uma tragédia.

4 comentários:

RenatoSuassuna disse...

É impressionante como a imprensa age como urubus sobre um caso que envolve vidas, mas será que não faltou um posicionamento mais firme por parte da polícia? Tirar a imprensa do local, mandar desligar as câmeras, não sei... Se bem que eles inventam meios pra tudo!

Com certeza, é muito fácil falar depois do que aconteceu... Se os atiradores de elite tivessem matado o cara, toda a imprensa e a população em geral provavelmente estariam metendo o pau na polícia por não ter negociado, por ter tomado uma "decisão precipitada", etc...

Lógico, aconteceram erros por parte da polícia, porém é uma decisão difícil de se tomar no calor do momento.

Anônimo disse...

Parabéns! Realmente as pessoas com um nível intelectual mais avançado, ou que conheça a suja mídia brasileira, tem o mesmo raciocínio. É uma pena que essa ideia venha sendo mostrada em pouquíssimos meios. Enquanto isso, grande parte da população brasileira vem se comovendo com a "irresponsável polícia, namorado apaixonado e final trágico" que a mídia vem fazendo como uma novela; o mesmo que aconteceu com o caso Isabela Nardoni.

Aluno CIS

Anônimo disse...

Simplesmente ridículo. Já está na hora de dar um basta nesse tipo da abuso por parte da mídia. Fala-se muito no Brasil em liberdade de imprensa, principalmente por conta da situação enfrentada durante a ditadura, mas para tudo deve haver um limite. O que mais se vê é a mídia tendo acesso a documentos confidenciais, gravações, dados sigilosos de inquéritos e mais comum ainda é reporteres se passarem por outras pessoas e fazerem gravações com câmera escondida. Ora, como bem lembrado pelo capitão na entrevista esse tipo de atitude é criminosa. A justiça não pode continuar permitindo que isso aconteça. Nesse caso em particular poderia muito bem ter se emitido uma ordem judicial para isolar a área e bloquear as chamadas do telefone do sequestrador de modo que a polícia pudesse trabalhar em paz e, se fosse preciso, alvejar o indivíduo. Espero que as responsabilidades sejam apuradas e se for constatado que a televisão teve alguma culpa que seja punida com o rigor da lei. Só assim resolve. Apelar para o bom senso desses "profissionais" é perda de tempo, pois o mesmo inexiste.

Unknown disse...

Nossa!!! Enfim uma opinião decente sobre o caso Eloa. A midia com sua mania de contos de fadas, quer sempre encontrar na historia, a mocinha, o heroi e o vilão. Não existe mais aquela midia que informava, hoje existe a midia formadora de opiniões. Num país onde é melhor ter pessoas ignorantes, do que pensantes.
A policia fez a parte dela, mas a midia deu ibope demais para o caso, tornando um assassino, o "cara", mobilizando atenção do país inteiro.
Se matassem Lindemberg, a policia seria o alvo das acusações do mesmo jeito. A policia fez a parte dela, se houve erros por parte deles, tenho certeza que foi tentando acertar. Facil é assistirmos ao caso na poltrona de nossas casas e querer julgar.
Dificil é entender que cada vez mais estamos criando pessoas como Lindemberg, dando ibope para a falta de ética, moral, inventerdo os valores de respeito e justiça.

PS: O blog foi indicado por um amigo meu alunos de vcs. Sou de ribeirão preto - sp e adorei ter passado por aqui.