Como é do conhecimento comum sobre a nossa História Contemporânea, a famosa Guerra da Coréia (1950 – 1953), no contexto da Guerra Fria, dividiu o país, que tentava se afirmar, por um lado, como um regime autoritário de caráter socialista; e, por outro, buscava se aproximar das políticas ocidentais e capitalistas. O episódio representava a tentativa do controle pleno das duas maiores potências do planeta naquela altura, EUA e URSS, sobre pequenas nações recém-saídas da dependência das antigas potências imperialistas que haviam entrado em uma crise conjuntural após a Segunda Guerra, especialmente Inglaterra e França.
Pois bem, caros alunos e amigos, é bem verdade que o cenário geopolítico internacional está vivendo tensões semelhantes ao da época do “grande medo” existente dos anos 50 até a Queda do Muro de Berlim, em 1989. E, mais uma vez, envolve a Coréia e os interesses norte-americanos em continuar conduzindo projetos econômicos neoliberais numa zona de conflitos e antagonismos políticos.
No último mês de março, uma corveta (uma espécie de navio militar) sul-coreana foi alvejada e afundou nas águas coreanas, provocando a morte de 46 marinheiros. A Coréia do Sul, irritada, acusou o vizinho malvado e apresentou um relatório à ONU comprovando que um submarino norte-coreano havia alvejado a corveta. Imediatamente as tensões foram reativadas, trazendo numa memória marcada por uma guerra antiga, a possibilidade de um novo conflito armado entre os dois países. E a Coréia do Norte nega veementemente a acusação.
Os EUA, aliados e mandatários das relações econômicas sul-coreanas, e que também possuem cerca de 28.000 soldados instalados em bases americanas na própria Coréia do Sul, já demonstrou apoio bélico e se disse estar preparado para evitar qualquer tipo de agravamento da situação. É como engatilhar uma espingarda, apontar para a cabeça do inimigo e pronunciar os chavões dos filmes policiais de Hollywood: “se você der mais um passo, eu explodo os seus miolos”.
O presidente sul-coreano, Lee Myung-Bak, se pronunciou oficialmente na TV, exigindo que a Coréia do Norte se desculpasse internacionalmente pelo que fez. Pedir desculpas parece ser uma medida razoável, para quem está sendo acusado de mexer no queijo alheio. Mas acontece que além das desculpas, já foi implantado um forte embargo que torna a situação da Coréia do Norte, que já é isolada naqueles lados de lá do globo, extremamente complicada. Seul decretou o fim das relações comerciais com o vizinho indesejado, cortou todo e qualquer tipo de investimento material destinado ao país através do rompimento total das relações diplomáticas; e ainda proibiu a Coréia do Norte de utilizar rotas marítimas mais baratas nas águas do Sul.
Isolada e arredia, como um cão que mordeu o dono sem saber o que fazer, a Coréia do Norte retaliou: Pyongyang ameaçou a destruição de transmissores sul-coreanos instalados em seu território; bem como requereu o direito de ampliar o seu arsenal nuclear, temendo, possivelmente, uma reação efetivamente armada do primo rico ligado aos EUA. E a gente sabe que isso só complicou a situação.
O mais interessante é que esse acontecimento está aquecendo o cenário geopolítico internacional, onde a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, foi à China (e ainda continua por lá...) para tentar, através de Pequim, conseguir um acordo com a Coréia do Norte. Mas um tipo de acordo que não inclui remover o embargo instalado. A China, único país daquele pólo asiático a dialogar diplomaticamente com a Coréia do Norte, pediu calma e preferiu não meter a colher onde não deve. O clima está quente! O caso está na ONU, que tenta forçar a Coréia malvada a pedir desculpas ao primo rico, dono da bola. Os EUA, “guardiões da paz”, mantém os 28.000 soldados perfeitamente armados nas bases sul-coreanas. Enquanto as tensões se acirram, a população coreana se pergunta: será que vai acontecer tudo de novo?
As armas estão apontadas, os dedos estão no gatilho, agora é torcer para que alguém sensato com poder de decisão política entenda que não se faz diplomacia em condições desiguais. Isso porque exigir desculpas internacionais pondo um estrangulador no pescoço do inimigo, vai torná-lo mais arisco e pouco amigável. Esperemos que a ONU cumpra o seu papel mediador e não se mostre mais uma instituição dependente e submissa ao Estado norte-americano, como ocorreu no episódio da Guerra do Iraque. E torçamos aqui no Brasil da Copa do Mundo e do Carnaval, que uma Nova Guerra da Coréia (2010 - ?) não entre num futuro breve como conteúdo a ser estudado nos nossos livros didáticos de história.
Mariano de Azevedo.
Um comentário:
Boa, Mariano! Estamos todos de olho!
Pessoal, não sei se vocês perceberam, mas este é o terceiro artigo de opinião que o blog publica. O primeiro foi o Brasil (Mariano), o segundo sobre Pena de Morte (João Carlos) e o terceiro sobre a Coreia (Mariano). Agora, toda segunda-feira, um dos autores do blog publicará um artigo. Fiquem de olho! Semana que vem, é minha vez.
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