sábado, 1 de maio de 2010

Quem é o cara, afinal?





A frase recentemente pronunciada pelo atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, “Lula é o cara!”, soou para muitos brasileiros como regozijo ou ofensa. Que o presidente Lula divide as opiniões políticas desse país não é novidade. Temos de um lado um grupo otimista que atribui a ele os atuais índices de melhoras alcançados em escala nacional e internacional. Já do outro, temos uma ferrenha oposição que tenta desesperadamente acusá-lo de corrupção, incompetência e negligência pública. E, claro, ainda temos os que repetem discursos prontos e ultrapassados de que este país não vai pra frente porque o “presidente é analfabeto” ou, em alguns casos passíveis de punição legal, “o presidente é nordestino e burro”.


Particularmente, eu tenho presenciado muitas discussões pouco inteligentes sobre política. Não sou lulista, nem petista, nem psdbista, nem serrista, nem dilmista e nenhum tipo de “ista” que possa representar alguma filiação dogmática a alguma corrente política. Falando como um reles conhecedor da história política do Brasil, acredito mesmo é num sentido evolutivo do cenário político brasileiro.


Para mim, o ponto forte e positivo do atual governo foi, desde a primeira eleição de Lula, ter iniciado uma perturbação interna que aleijou o carcomido esquema pluripartidarista que tornava inoperante a realização da política brasileira desde a abertura de 1985 (para não falar de antes...). Explico: a eleição do PT em parceria com outros partidos que n’outros tempos poderiam ser seus arquiinimigos, provocou a ruptura do velho e desgastado sistema de direita versus esquerda, promovendo, pouco a pouco, uma integração de partes interessadas em compor um Estado que caminha para a síntese ao invés de querer ser a antítese em essência.


Sejamos honestos: o projeto neoliberal da política e da economia brasileiras que arranca elogios da crítica internacional foi iniciado com Fernando Collor, o mesmo que sofreu impeachment, sendo banido do cenário político acusado de altos níveis de corrupção. De lá pra cá, não há outro meio de se relacionar com as grandes economias globalizadas sem adotar o viés neoliberal, que não é, como podem pensar alguns, um monstro devorador dos países pobres, sendo muito mais um veículo mundial de circulação de mercadorias e de transações comerciais e políticas que acompanha o ritmo acelerado da sociedade de consumo atual.


Agora eu paro e pergunto: tudo isso parece com o PT dos anos 80, com o partido operário que denunciava a ineficácia da “década perdida” do Brasil? É evidente que não.


A política brasileira vem passando por um processo evolutivo, através do qual o Estado age como um verdadeiro conciliador, deixando de lado a oposição pela oposição e agregando forças, diluídas em diversas legendas partidárias, em prol da execução de um projeto de nação que se enquadra, definitivamente, no ritmo das economias globalizadas. Um governo-síntese, parecido com aquele de Juscelino Kubistchek, embora muitos acreditem que Lula é uma espécie de “Vargas do século XXI”.


Vejo a figura de Lula com as lentes sociológicas de Max Weber: um líder carismático. E o carisma sempre foi ferramenta importante para a liderança, esta que só existe pela aceitação da população. Não acho que os méritos da política brasileira sejam somente de Lula, mas de uma continuidade que deu certo; uma evolução política que está em curso, mexendo com os velhos esquemas partidários e constituindo um cenário mais coerente, que procura efetivar uma política agindo sobre todos os grupos sociais ao invés de privilegiar uma classe arrancando a ojeriza das outras.


O resultado disso tudo eu vejo nos discursos moderados da oposição, que se vê no desafio imenso de elogiar a política atual do governo tentando convencer a população de que está na hora de mudar por uma simples necessidade da alternância prevista em um regime democrático. E não venhamos com as baixarias estúpidas que enchem nossas caixas de e-mail com currículos perniciosos da candidata Dilma ou com frases antinordestinas de José Serra. Sejamos mais inteligentes e saibamos analisar a conjuntura política do Brasil mais pelo cenário geral das ações governamentais e menos por discursos prontos que reproduzem preconceitos ou desafetos particulares que visam deteriorar mais as personagens políticas do que analisar o resumo geral da ópera.


Lula não é o cara, a política brasileira em geral é que está amadurecendo. E nós, eleitores e cidadãos, temos parte nisso tudo. Portanto, nosso desafio nas próximas eleições será refletir sobre a seguinte questão: “Mudar? Por que eu deveria mudar os rumos das coisas?”. Sem dúvidas, é a reflexão própria que faz a decisão política, não a repetição de discursos tapados e prontos para circulação.

Mariano de Azevedo.

5 comentários:

Renan Yuri disse...

Bravo!

Suzana Melissa disse...

O texto, de ponto de vista claro e coerente, realmente leva-nos à uma reflexão a respeito do atual quadro político, social e econômico no qual o Brasil se insere; além de apresentar um conjunto de ideias precisas e que (na sua forma imparcial) nos esclarecem sobre a real preocupação que o brasileiro deve ter ao escolher seu voto, de forma que este seja consciente e reflexivo.


P.S.: Parabéns pelo texto de alto nível e de qualidade indiscutível!

Anônimo disse...

Mariano, vc é pawww melhor prof de história!!!

Mariano de Azevedo disse...

Obrigado pelos elogios, gente! Continuem participando do nosso blog a cada postagem.

Abraços!

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto,um referencial para análise política. Sugiro que faça uma pesquisa e escreva com esse alto valor de conteudo, com coerência e técnica redacional que o caracteriza sobre a política assistencialista adotada pelo governo Lula, onde poda a auto estima dos jovens, principalmente aqueles da zona rural que estão na faixa de 17 a 26 anos, sem emprego, escolarizados, sem motivaçãoi ao trabalho em virtude dos benefícios de programs, projetos e apois sociais que desmotivam, podam a maior virtude do homem, a formação da dignidade que seria adquerida pelas predisposição ao trabalho. No meu município comprovo estatisticamente a formação de um esército de jovens inimigos do trabalho com valores distorcidos esperando a entrar na universidade do crime. Politicas publicas voltadas para dignificar o home atraves das veredas do trabvalho são necessárias. Infelizmente os ditadores pensam de outra maneira. Por isso acho importano conotações reflexivas como as suas sobre a conscientização politica que temos que alcançar. E os caras podem estar juntos de nós.