segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Crônica de Natal.


Não, eu não gosto de vancê, Papai Noé.
Também não gosto desse seu papé
De ficá aí vestido de vermeio vendendo ilusão
pra tar de burguesia.
se os meninos pobre da cidade,
soubesse o desprezo que o sinhô tem
Pela humirdade, eles jogavam pedra em sua fantasia.





Vancê, tarvêz num se alembre mais...
Faz muito tempo...eu cresci.me tornei rapaz
Mas nunca esquecí aquilo que passô.
Foi assim:eu tinha escrevido um biete prô sinhô
Pedindo o meu presente... A noite inteira eu esperei contente...
Raiou o dia... chegou o sor...Mas vancê, não chegô.
Inté chorei desconsolado...

Então, dias despois, meu pai,coitado,

Me apareceu com um trenzinhovéio, enferrujado.

Ponhô na minha mão e disse assim:
- Toma... é seu...
- Pra mim, pai ?
- Sim. É pra vancê; foi o Papai Noé que mandô.
E aí vi quando ele, uma lágrima desfarsô, de emoção.



Eu, inocente nesse caso,
Imaginei que o meu biete com atraso, tinha chegado im sua mão,
Naquela hora.
Então , contente, limpei o MEU trezinho bem limpado,
Dei corda nele, ele partiu, deu muitas vorta....
Meu pai do lado,me olhou,
Se riu, me abraçou e foi-simbora.



Passado mais uns dia
Meu pobre pai , de repente vortou.
Vinha assim como quem ta com medo e falou pra mim:
Me dá aqui aquele seu brinquedo
Eu vou trocá por outro na cidade.

E eu, sem vontade,
Fui entregando pra ele o MEU trezinho,
Quage a saluçá...
E como quem num qué abandoná,
Um mimo que lhe deu quem lhe qué bem!
Eu supriquei medroso
- Ô pai...eu só tenho ele..Eu num quero outro brinquedo,
Eu quero aquele,
Por favor, pai num vá levá meu trem!



Ele nem me ouviu.
Correndo, bateu a porta e saiu como um doido varrido.
Minha mãe gritô pra ele:
- José?! ele nem deu ouvido...
Foi-se imbora e nunca mais vortô.



Pois é, papai Noé.
Vancê me transformô
Num homi que hoje
Despreza a sua infância e o dia de Natá.
Sem meu pai, sem brinquedo, afiná,dos seus presente,
Num hai um que sobre
Da riqueza pra esses menino pobre
Que sonha o ano inteiro
Com a noite de Natá.





E só bem despois que eu cresci
Foi que tudo compriendí!
Naquele do tar trenzinho
Meu pai de mim compadecido,
Num gesto humano e decidido,
Pagou bem caro a minha ilusão:
Foi longe demais, coitado.
Imaginando que pro seu fio aquilo era um bem,
Tinha roubado do fio do patrão aquele trem.





Quando ele sumiu da última vêz,
Pensei que tinha viajado.
No entanto, minha mãe,
Despois que eu fiquei moço,
Em pranto, me contô que ele foi preso e transformado em RÉU!
Pra absorvê meu pai,
Nenhum amigo ou parente se atreveu.
E o pobre foi definhando na cadeia...
Foi indo... foi indo...,
Inté o dia em que Deus entrou naquela cela e
Libertou ele pro céu.





Autor: Aldemar Paiva, adaptado por Rolando Boldrin.

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