quarta-feira, 17 de junho de 2009

Dica de leitura para o recesso (01)


Vocês todos sabem que, além de História, também estudo Direito. A minha dica literária para o recesso junta esses dois saberes. É o novo livro do historiador paulista Boris Fausto, intitulado O crime do restaurante chinês: carnaval, futebol e justiça na São Paulo dos anos 30.

A maioria de vocês deve se questionando: por qual motivo deveria ler um estudo que fala sobre a justiça paulista na década de 30?

Para responder a essa pergunta, farei um pequeno esclarecimento historiográfico. Nos anos 60, um historiador italiano chamado Carlo Ginzburg inaugurou uma nova forma de se ver a história: a micro-história. Seu intento era o de, partindo de uma situação singular – uma biografia de alguém “desconhecido” ou um processo inquisitorial, por exemplo – conseguir visualizar situações históricas consideradas, até então, pouco importantes, visto que as principais escolas historiográficas – o marxismo e a segunda geração dos Annales – se preocupavam mais com as generalidades, as estruturas e a longa duração. Ginzburg queria entender as situações cotidianas, a mentalidade, o imaginário das pessoas, a influência de um livro sobre a visão de mundo de um pobre moleiro parcamente alfabetizado do interior da península itálica, como o fez em O queijo e os vermes.

Boris Fausto segue essa idéia. A partir de um horrendo crime – acontecido em 1938, quando foram assassinadas quatro pessoas, sendo três esmagadas por um cilindro de madeira usado como pilão no restaurante – o autor trata das repercussões do caso na sociedade paulistana, tendo os jornais da época como principais fontes.

Boris Fausto, professor aposentado da USP.

No decorrer da narrativa, Fausto, ao se prender nos autos e nas perícias feitas pela polícia e por cientistas, analisa uma série de situações que ocorriam no Brasil à época, como a crença no pensamento criminológico de Cesare Lombroso – em consonância com a perspectiva do Darwinismo Social –, que terminava por justificar cientificamente o racismo.

O principal suspeito do crime, Arias de Oliveira, negro, já estava condenado antes mesmo do julgamento, dado à cobertura dos tablóides paulistas, que transformaram o caso numa verdadeira jogada para aumentar seus rendimentos (isso me lembra o recente o caso Eloá...). Mas aí surge um advogado da Frente Negra – uma associação de negros da classe média paulistana – que passa a defendê-lo com enorme sucesso.

Ao longo da narrativa do caso, aspectos como futebol, carnaval, racismo, imigração e Estado Novo são muito bem trabalhados pelo historiador, fato que nos faz compreender o Brasil da época.

Não vou contar a história inteira, porque perde a graça. Mas é uma excelente dica! Ricamente ilustrado, escrito em ritmo de romance policial, com um enredo que surpreende até o mais criativo roteirista de Hollywood, o livro nos cativa ao ponto de não querermos dormir, só para continuar lendo. Eu mesmo o li em uma tarde/noite!

Boa leitura!
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Livro: O Crime do Restaurante Chinês.
Autor: Boris Fausto.
Editora: Companhia das Letras.
Ano: 2009.
Páginas: 236.
Média de preço: R$45.

2 comentários:

Adailton Figueiredo disse...

Caríssimo João Carlos,

Acabei de ler "O Crime do Restaurante Chinês", num fôlego só; comecei noite passada e terminei já dia claro.

Belísssimo livro! permita-me uma bronca pública: por que voce não me essa leitura indicou antes?!

Fraterno abraço,
Adailton

João Carlos Rocha disse...

Indiquei agora porque o livro foi publicado em maio de 2009. Acabou de sair do prelo hehehe!