sábado, 20 de junho de 2009

... e você o quê pensa sobre o tema?

Sim! Eu sou jornalista diplomado!
Por Bruno Araújo
Estudante de Jornalismo da UFRN

Quais são os ingredientes necessários para realizar um sonho? Um grande punhado de força de vontade. Colheradas generosas de paciência. Gotas suntuosas de determinação e talvez umas boas pitadas de sorte. Tudo isso despejado de maneira cuidadosa no ‘panelaço’ da vida.


Pois bem, às vezes a receita a qual nos propomos a preparar desanda por um motivo qualquer. Não porque fizemos rápido ou devagar demais. Não porque exageramos um pouco neste ou naquele outro ingrediente. Muitas vezes, o que faz nosso sonho caminhar três passos à frente, quando nossas pernas nos permitem dar apenas dois passos, é a presença de interesses contrários ao que almejamos.


Indignação é uma das muitas palavras que me vem à cabeça quando se confirmou a notícia de que o diploma de jornalista não é mais uma exigência para o exercício da profissão.


Um sonho que perdeu por oito votos a um. Um sonho que, apesar de não ter sido desfeito, foi duramente atacado e ferido. Em aproximadamente seis meses, devo me formar e receber o diploma, assim como tantos outros no país. Então eu pergunto: Para quê senhores ministros do Supremo Tribunal Federal? Meu esperado diploma, até então uma representação em papel de uma árdua batalha universitária, poderá ser comparado a uma receita para analgésicos. Ou seja, sem utilidade alguma.


Muitos dirão: Mas o que vale é o que você aprendeu nos bancos da faculdade e as horas de estudo! Talvez sim, mas qual será a sensação de um concluinte, depois de quatro anos e meio lutando pela formação superior, ao receber um canudo que não terá mais valor algum?


Tão infeliz quanto à decisão tomada na noite de quarta-feira (17), foi analogia feita pelo excelentíssimo ministro e relator da proposta, Gilmar Mendes, ao comparar a profissão do jornalista a de um cozinheiro ou mesmo um costureiro! Não desmerecendo as profissões citadas, mas ser jornalista não é unir um punhado de ingredientes no boteco da esquina, ou tricotar um casaco para o neto querido. Resumindo: não é pura técnica!


Ser jornalista é ter um papel de extrema importância na formação das sociedades. É, não apenas escrever de forma acessível, mas saber a importância do que se está escrevendo, para quem está se fazendo, sem contar a responsabilidade do ato. É ter a certeza de que, assim como um médico pode destruir uma vida rompendo a artéria de um paciente durante uma cirurgia, um jornalista sem formação e sem conceitos, pode fazê-lo sem utilizar um bisturi e matar não uma, mas uma série de pessoas, com a divulgação de uma notícia mal apurada ou mesmo falsa.


O argumento do STF para derrubar a exigência do diploma apóia-se no direito à liberdade de expressão. E quem, em que momento, e de que forma, cercearia esse direito constitucional mediante a exigência do diploma? Hoje, em qualquer lugar, quem quer escrever, o faz e o publica em qualquer lugar da internet, num folhetim de bairro, ou numa TV comunitária. Para isso, para expor idéias e pensamentos, não há necessidade de se possuir um curso superior. Patativa do Assaré passou longe da academia e expôs sua arte sem qualquer empecilho, assim como tantos outros que o fizeram. Para escrever, basta ter alma, ter coração, uma opinião e querer expressá-lo.


O que se precisa resguardar é a profissão do jornalista. Para exercê-la, é preciso ter não apenas os dons alquímicos dos cozinheiros, mas também os dotes para cruzar informações, como linhas, assim como os costureiros fazem de maneira precisa. No entanto, tão importante quanto, é ter formação.


É preciso ter o reconhecimento dessa profissão na sociedade para que, uma categoria de tamanha importância na vida das pessoas, não seja esfacelada pelos interesses de empresas que, poderão escolher entre uma pessoa que acha ter o dom da escrita e não tem idéia do poder e a responsabilidade que tem nas mãos, a um indivíduo que alia habilidades na grafia a experiência de vida e de conhecimento científicos específicos que apenas os bancos da academia, as horas de sono mal dormidas e as acaloradas discussões com professores podem proporcionar e transformar um curioso em um profissional.


Tão ruim quanto à decisão é o precedente que se abre. Hoje o jornalista passa a ser desqualificado. Amanhã é o advogado, em seguida o médico. E depois? Em seguida vem o caos. Clima desejado por àqueles no poder, que pretendem manter-se onde estão, e para isso, enfraquecem a categoria que mais pode ameaçar seus anseios. A única categoria, salvo exceções, alheia ao Estado e ao poder e que é capaz de revelar à sociedade as reais falhas do sistema, dos governantes e das corruptelas instaladas em nossa sociedade e sugam ininterruptamente e discretamente de nossas tetas.


Mas hoje, mesmo com o pesar que sinto e a descrença ainda maior que passo a ter na Justiça brasileira, tenho orgulho de ser estudante de jornalismo e, mesmo parecendo piegas, defensor da verdade e do interesse coletivo. E, em breve, poderei bater no peito e dizer com enorme prazer e satisfação: SIM! EU SOU JORNALISTA DIPLOMADO!

5 comentários:

Alessandra disse...

Oi Adailton, sou sua Aluna no Pré CDF Máster e vou prestar vestibular pra Jornalismo.
Fiquei abismada quando soube dessa notícia, mas não vou desistir do curso. É o que eu quero pra mim e tenho certeza que meu potencial como jornalista não vai ser comparado a o de alguém que chegou alí sem o devido esforço.
E direi junto com o senhor: SIM! EU SOU JORNALISTA DIPLOMADA.

Fanfarrão PaPa Jerimum disse...

Para mim essa lei é uma atração ao charlatanismo, além de ferir àqueles que fazem o jornalismo profissional.
É também uma brecha na justiça do Brasil, pois um pseudomédico ou um chalatão qualquer pode se utilizar da argumentação de que:
_Se ele pode, por que eu não posso?
Imagina só se a moda pega?!

Anônimo disse...

Ao senhor Bruno Araújo:
Com todo o respeito ao senhor e outros estudantes de jornalismo, assim como aos jornalistas diplomados, devo dizer que, aparentemente, seu maior argumento é o de que o curso de jornalismo tem o papel de transformar o formando em um ser humano melhor.
Parece-me que ao falar sobre "uma pessoa que acha ter o dom da escrita e não tem idéia do poder e a responsabilidade que tem nas mãos" e "um indivíduo que alia habilidades na grafia a experiência de vida e de conhecimento científicos específicos", o senhor afirma que apenas aqueles formados em jornalismo poderiam escrever um texto corretamente e que mereça ser lido (desculpe-me, mas, sendo esse o caso, o senhor não deveria saber evitar erros de grafia no seu texto, como "à decisão"-primeira linha do sexto parágrafo; e "por àqueles no poder"-quarta linha do décimo primeiro parágrafo?).
Sim, "um jornalista sem formação e sem conceitos, pode fazê-lo (destruir uma vida) sem utilizar um bisturi e matar não uma, mas uma série de pessoas, com a divulgação de uma notícia mal apurada ou mesmo falsa", mas o que impede um jornalista diplomado de ser negligente em sua profissão e acabar por prejudicar diversas pessoas? Não existe teste de ética para se exercer a profissão de jornalista e mesmo, se existisse, alguns poderiam não ser honestos ao fazê-la, apenas para passar, não? Afinal, como disse o ministro Gilmar Mendes, “a formação específica em cursos de jornalismos não é meio idôneo para evitar eventuais riscos à coletividade ou danos a terceiros.”
O ministro sugeriu que os meios de comunicação exerçam o mecanismo de controle de contratação de seus profissionais. Sinceramente, isso deveria ser uma obrigação de qualquer contratante, independente da lei ser mantida ou não.
Ah, mais uma coisa. Apesar de o senhor não querer desmerecer as profissões citadas, qualquer cozinheiro ficaria seriamente ofendido ao ler que sua profissão se resume a "unir um punhado de ingredientes no boteco da esquina".
Perdão, mas o senhor me pareceu arrogante.

Matheus Tavares disse...

Não acredito que o estudante que escreveu esse artigo foi arrogante, pelo contrário. Além dos jornalistas formados, eles são os mais atingidos por essa situação.

E seu comentário faz recortes no texto que, da forma como você apresenta, aí sim, parece arrogante e fora de contexto.

Não sei se você possui alguma formação de nível superior, se esforçou para passar em um vestibular e passou quatro anos e meio em um curso para, depois disso, seu diploma e esforço ser invalidado.

Talvez, indignação, e não arrogância, definiriam melhor o sentimento deste e de muitos jovens e profissionais pelo país!

Os meios de comunicação são empresas e, assim como tal, buscam o lucro. Pare e pense bem: Quem vai ter condições de exigir melhores condições de trabalho se qualquer um pode ser jornalista?

Essa ação julgada pelo STF é fruto de uma iniciativa das empresas que, desde 1985, após processo que a Folha de São Paulo sofreu por exercício ilegal da profissão.

Assim, o objetivo dos veículos é desvalorizar esses profissionais para que possam pagar quanto quiserem, numa completa destruição das condições de trabalho da categoria.

Então, saiba que o 'buraco é mais embaixo' e, nem de longe, você conseguiu perceber o tamanho do problema que se criou com essa decisão do STF.

Ah...e criticar é fácil, mas fazer seus apontamentos e comentários mostrando o nome e expondo a alma, como esse estudante fez, nem tanto!

Anônimo disse...

Mas e ai??devemos desistir do nosso Sonho de prestar vestibular para jornalismo??to muito confusa...=S