segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ainda sobre a fala da professora Amanda Gurgel.

Assisti ao discurso da professora Amanda Gurgel, na audiência pública, realizada pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, no qual, de maneira contundente, a educadora faz uma explanação sobre a atual situação da educação pública brasileira.

Em sua fala, diante de Deputados e da Secretaria de Educação do Estado, a jovem educadora, principia apresentando números que as otimistas estatísticas oficiais historicamente mascaram: o salário do docente. Expõe sem reservas o seu salário de novecentos e trinta reais mensais! De maneira corajosa e com uma certa dosagem de ironia, ao meu ver, pergunta se os excelentíssimos senhores deputados conseguiriam viver com tal quantia e, ainda pede, elegantemente, que eles não responda se, por ventura, houvesse constrangimento na resposta! O silêncio reinou entre os legisladores potiguares ali reunidos. Porém, a própria professora responde de maneira enfática “não”. E arremata: “o meu salário não seria suficiente pra comprar a indumentária que os senhores usam pra vir a esta casa”.

Volta-se para a secretária de educação Betânia Ramalho e sentencia que os vencimentos de um professor não dá pra comprar perfume francês ou bolsa de grife, deixando subentendido, deduzo, as preferências da professora Betânia. E mais uma vez, destroça suas excelências com uma pergunta definitiva: “querem que eu mude o Brasil com um quadro e um giz?” e, confessa, “eu não posso!”

Durante toda sua oratória, a professor Amanda Gurgel, faz vê que as necessidades da nossa categoria são imediatas, ou seja, professor precisa sobreviver. E é ai que começo a crer que o desabafo da professora, precisava ser, ainda mais, verticalizado.

O discurso que professor precisa sobreviver é verdadeiro, justo e apropriado; não tenho dúvida. Ao final de cada mês, as obrigações financeiras e orçamentárias precisam ser liquidadas junto a fornecedores de produtos e serviços, como de qualquer outro cidadão honesto. Todavia, senhores professores, deputados e sociedade em geral, a questão é mais aguda ainda. Falar em salário para um professor sobreviver não é convincente aos ouvidos do poder. “Com um bom ou mau salário”, hão de dizer, “qualquer um sobrevive; aliás, sem salário sobrevive um verme!”. O cerne da discussão deve encaminhar nosso olhar em outra direção que complementa, de forma inquestionável, a tese da sobrevivência material do professor: o educador, note-se isto, é o profissional que transmite e contribui para a perpetuação da cultura, da ciência, da tecnologia, de valores éticos e morais que garantem uma sociedade competitiva, e eficiente no presente e no futuro!

A transmissão de conhecimentos requer, inquestionavelmente, a retenção, a priore, do conhecimento; parece-me obvio! E como o profissional da educação poderá transmitir, sem tê-lo? Saber, infelizmente, é caro! Como comprar livros, assinar revistas e jornais, ter acesso a internet, poder assistir ao um filme, ir a um espetáculo teatral ou participar de um congresso ganhando novecentos e trinta reais mensais?! Estas ausências estarão presentes nas nossas aulas, fiquem conscientes, os senhores. Infelizmente, a miopia intelectual de alguns gestores públicos, somente lhes permite ver, pelas lentes das estatísticas massificantes da burocracia eleitoreira.

Professor, senhores deputados e demais autoridades constituídas, são seres que precisam além de comida, roupa e calçados, de um bem maior; conhecimento, para que este pais não naufrague, de uma vez por todas, na estupidez
!





Adailton Figueiredo, professor de História.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tive o prazer de escutar a leitura desse artigo pelo próprio Adailton. Ele já disse tudo: "estatísticas massificantes da burocracia eleitoreira". Não é conveniente para nem um político que a classe a qual usufrui do ensino público seja bem seja bem instruída, mera perpetuação das elites.

Mariano de Azevedo disse...

Dadá Maravilha é show! Muito bem, colega e amigo, sua voz é nossa consciência. Parabéns!

Mateus Palhano disse...

Também tive o prazer de escutar essa resenha do Professor Adailton. É notório o descaso com a educação brasileira, um professor com nível superior ganhar 930 reais? Nem mesmo um eletricista ganha isso. A greve é grave, no meio de tudo isso estão nossos futuros colegas da ufrn.

Adailton Figueiredo disse...

Mariano,

Elogio vindo de voce, meu caro, é mais doce. Voce é um profissional hiper competente e ,sobretudo, ético, nestes tempos de danação!
Abraço,