domingo, 10 de outubro de 2010
E você, o que pensa? (3)
A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma.
Esta história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.
domingo, 3 de outubro de 2010
A farsa da legitimidade.
A festa da democracia está na rua. Entre candidatos de sorriso largo e plataformas curtas, a ilusão do resgate da decência desfila em carros abertos, e as promessas de honestidade e trabalho saltitam de palanque em palanque. Adversários que outrora também juravam a verdade e testificavam a incompetência de seus competidores, execrando-os com asco, agora partilham o mesmo altar sagrado. Todos contritos e convictos de que os ataques do passado eram fruto do “calor da campanha” ou, ainda, produto do furor da emotiva jovialidade.
A festa da democracia está na rua. Cores enfeitam avenidas, vestem corpos e se desbotam na história. Jingles enaltecendo candidatos e alienando eleitores são exaustivamente repetidos como preces pela eleição; promessas se esvaem por esgotos a céu aberto; modernização em bocas de dinossauros da política é a palavra de ordem! Antigos caciques, pecuaristas de eleitores, proprietários de currais eleitorais, falam de honestidade com a autoridade de um cidadão probo, cumpridor dos deveres.
A festa da democracia está na rua. Filhotes de tiranossauros apresentam-se como o novo. Herdeiros da genética maldita da politicagem rasteira, da desonestidade tradicional, da incompetência testificada pela história, detentores dos chicotes de avós e pais, algozes de um povo crédulo e miserável lançam-se ávidos pelo poder que os encastelará em torres de catedrais que custaram o suor dos nossos pais e sua manutenção exigirá o nosso e de nossos filhos e netos.
A festa da democracia está na rua. Serviçais de alcovas, camareiros dos prostíbulos das escusas negociatas, arautos dos vendedores de ilusão tocarão as trombetas da esperança e os bobos da corte dos horrores desviarão a atenção do cidadão com a mesma maestria com que alguns dos seus senhores desviaram e, quem sabe, desviarão recursos públicos das mesas de nossas filhas e filhos.
A festa da democracia está na rua. A plebe circunvizinha do poder se refestelará na lama deixada pelas sapatilhas de pelica da elite como urubus famintos em carniça de monturo. Consciências serão prostituídas por alguns níqueis; saberes serão segredados em troca de algum posto que sangrará o erário público; algumas doações de campanha serão empréstimos que deixarão rubra a falta de vergonha. Decências usarão lentes escuras e não terão coragem de olhar nos olhos da verdade!
A festa da democracia está na rua. Ao final, as sobras das mentiras, os restos apodrecidos dos conchavos, os resquícios dos enxovalhos, os dejetos da orgia e o custo da festa serão nossos. Até quando, meu Deus?!.